Os vinte anos da Biblioteconomia em Alagoas: registro, informação e memória

Por Maria de Lourdes Lima - CBIB/ICHCA/UFAL*
10/05/2018 17h48 - Atualizado em 18/10/2022 às 08h12
Arte: Raphael Freitas Souza

Arte: Raphael Freitas Souza

Os vinte anos de existência do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Alagoas, em 2018, localizado no Campus A .C. Simões, em Maceió, guardam uma estreita aproximação com a canção “20 Anos Blue”, composição musical de Sueli Costa e Vitor Martins, na interpretação de Elis Regina, sobretudo quando insiste: “Ontem de manhã quando acordei/Olhei a vida e me espantei/Eu tenho mais de 20 anos/E eu tenho mais de mil perguntas sem respostas/Estou ligada num futuro blue [...]”. A composição é de 1972. A relação da história do curso com a letra da música se mescla à juventude de ambos, insistente e impertinente, tanto na trajetória recente do curso quanto na perplexidade que a letra da música deixa entrever, quando anuncia: “[...] Eu tenho mais de vinte muros/O sangue jorra pelos furos pelas veias de um jornal/Eu não te quero, eu te quero mal/Essa calma que inventei, bem sei/Custou as contas que contei/Eu tenho mais de 20 anos [...] ” (CALADO, 2014, p.37).

A inquietação, o desconforto, o mal-estar civilizatório, a insatisfação, a rebeldia, o vigor buscam respostas urgentes para a resolução de desafios e de problemas que permeiam a jornada de ambos, curso e composição musical; em outras palavras, insiste na busca de sentidos para os seus respectivos contextos, em que o tempo é um sorvedouro contínuo de tensões, angústias, expectativas e esperanças. Mas ambos persistem, prosseguem na procura da “necessidade de informação” e de novos horizontes. Assim, essa analogia entre os vinte anos do Curso de Biblioteconomia e os “20 Anos Blue” da letra e da composição musical é o que torna os dois próximos e cúmplices, ao mesmo tempo, quanto às suas trajetórias e possibilidades.

Os vinte anos do Curso de Biblioteconomia abrem um precedente, no sentido de acelerar a sua institucionalização: cobrou providências para erigir uma estrutura física que abrigasse o curso; intensificou a qualificação de seu corpo docente; apostou na edição de uma revista online ‒ Ciência da Informação em Revista ‒ que promovesse a produção do conhecimento; estimulou os seus ex-alunos e ex-alunas a buscarem fora de Alagoas programas de pós-graduação pertinentes às suas áreas de estudos e de pesquisas; por último, culminou com a proposta de implantação de um programa de pós-graduação em Ciência da Informação, na esfera multidisciplinar, envolvendo docentes dos cursos de Comunicação Social, Administração e Ciência da Computação.

Enquanto isso, nestas duas últimas décadas, a Ufal garantia a sua consolidação institucional, acelerava a qualificação de seus quadros acadêmicos e funcionais, investia na realização de obras, intensificava a instalação de novos programas de pós-graduação e ampliava a interiorização de seus cursos de formação profissional. Através de dois campi: o Campus Arapiraca, por meio das suas unidades em Viçosa, Palmeira dos Índios e Penedo; e o Campus do Sertão, através de suas unidades em Delmiro Gouveia e Santana do Ipanema.

Aqui se justifica a presença de um ethos que não se subordina à banalização, ao trivial, às disputas pessoais de egos, mas que corre célere em busca de novas paisagens, de possibilidades, proposições e atitudes que redimensionem a extensão dos desafios que o Estado de Alagoas não cessa de sinalizar em relação aos seus indicadores sociais, econômicos, políticos e culturais. Neste aspecto, é papel da universidade pública e de qualidade propor e rever os seus pressupostos, suas metas e, de modo incessante, estabelecer aproximações entre o desempenho da instituição e as suas interfaces com o Estado, a sociedade, o conhecimento e a ciência.

Portanto, pensar os vinte anos do Curso de Biblioteconomia em Alagoas requer (re)construí-lo com base neste tripé formado pela combinação entre o Registro, a Informação e a Memória. Três pilares sem os quais se torna inviável pensar a existência de um curso universitário, a partir de um marco em que a juventude de sua história, constituída majoritariamente pelo seu quadro docente, funcional e discente, tem como possibilidade trilhar os próximos vinte anos, quando atingirá sua plena maturidade.

Presto esta homenagem na condição de um olhar estrangeiro, mas também de uma docente, testemunha e passageira de uma viagem iniciada em 1998.

 

REFERÊNCIA

CALADO, Carlos. Elis 1972. São Paulo: Mediafashion, 2014. (Coleção Folha: o melhor de Elis Regina; v.8).

* Doutora em Ciência da Informação. Professora Adjunta do Curso de Biblioteconomia/UFAL. maria.lima@ichca.ufal.br.