Professor Dr. Andreas Krell recebe homenagem


26/03/2014 10h47 - Atualizado em 08/09/2020 às 10h32

ENTRE A GESTÃO PÚBLICA E O COSTITUCIONALISMO

Discurso em homenagem ao Professor Andreas Krell

Proferido em 25/03/2014 em solenidade na FDA/UFAL

 

Professor George Sarmento

FDA/UFAL

 

Prezado Professores,

Alunos da graduação e pós-graduação,

Bravos funcionários administrativos,

Respeitável Decano, Professor Marcos Bernardes de Mello,

 

Meus senhores, minhas senhoras:

 Recebi com surpresa e alegria a incumbência de prestar uma singela homenagem ao professor Andreas Krell, no momento do encerramento de seu mandato à frente dos destinos da Faculdade de Direito de Alagoas. Foram oito anos de dedicação exclusiva ao projeto de fortalecer nossa instituição com ensino de boa qualidade e condições materiais adequadas para responder aos novos desafios pedagógicos no ensino das ciências jurídicas.

 Oito anos! Mas como diria Guimarães Rosa, “Hoje, temos a impressão de que tudo começou ontem. Não somos os mesmos, mas somos mais juntos. Sabemos mais um do outro... Nada se perderá. Pelo menos dentro da gente”.

 Sempre nutri pelo professor Andreas fortes laços de amizade. Lembro-me do jovem estudante germânico que me procurou em 1991 na Promotoria do Meio Ambiente para coletar dados sobre gravíssimo vazamento de organoclorados sólidos no Polo Cloroquímico de Marechal Deodoro, contaminando o Complexo lagunar Mundau-Manguaba, um dos mais preciosos patrimônios ecológicos das Alagoas. As investigações estavam sob minha responsabilidade e o caso ganhara grande repercussão na imprensa nacional. A entrevista foi longa. Tomou muitas notas, analisou documentos e complexos laudos periciais. Foi com satisfação que, anos depois, vi referência a artigo de minha autoria sobre o tema em sua tese de doutoramento.

 Também estive presente em sua acolhida, já doutor em direito e expressando-se muito bem em português, para assumir a função de professor visitante da Universidade Federal de Alagoas. Pouco tempo depois, em 1995, seria aprovado no concurso de provas e títulos como professor efetivo da Casa, dando início, assim, à brilhante carreira como titular da cadeira de Direito Ambiental na Faculdade de Direito de Alagoas.

 Aluno do curso de Mestrado da UFPE,  acompanhei de perto a irresistível paixão que desabrochou entre o mestre e a promissora aluna, unindo para sempre os seus destinos pela força do amor e do respeito. Fui padrinho do casamento de Andreas e Olga Krell, hoje dedicada professora da instituição e sua fiel companheira pelas estradas da vida, de cuja união nasceu a Moniquinha, verdadeiro xodó do casal.

 Juntos enfrentamos alguns desafios como a implantação do Escritório de Prática Jurídica e a criação do Mestrado em Direito na Universidade Federal de Alagoas, que tem sido responsável pela descoberta notáveis talentos das letras jurídicas, muitos dos quais são docentes desta Casa, enquanto outros emprestam o brilho de sua inteligência a outras instituições universitárias alagoanas e brasileiras.

 Andreas está radicado em Alagoas há exatos 20 anos. Ao chegar em nossas plagas, já era profissional consagrado. Sua tese de doutorado, defendida na Universidade Livre de Berlim, foi aprovada com a menção Summa Cum Laudam. No Brasil já tinha sido professor visitante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas optou pelas terras alagoanas por razões sentimentais e pelo excelente trabalho de divulgação do municipalismo, realizado pelo seu pai em programas de intercâmbio com políticos alagoanos. Construiu o seu Jardim do Éden na prosaica praia de Guaxuma, onde vive cercado por belos coqueirais e pela cálida brisa do mar. É ali que realiza pesquisas e produziu as suas obras mais importantes.

 Entre 2004 e 2006 foi eleito o Coordenador do Mestrado, que acabara de ser aprovado pelo CNPQ. O seu trabalho o credenciou para ocupar a importante função de Diretor da Faculdade de Direito no quadriênio 2006-2010 e reeleito para o quadriênio 2010-2014, que agora se finda.

 Ao longo de sua carreira, Andreas se mostrou excelente pesquisador e um dos mais importantes constitucionalistas do país. É conferencista, autor de livros e artigos científicos. Seus estudos têm sido citados em centenas de teses e dissertações, além de ser fundamento de importantes votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal, entre eles Eros Grau, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Seus ensinamentos também são destaques em obras doutrinárias de grandes juristas, como Ingo Sarlet e Luiz Roberto Barroso.

 Orientou cerca de 75 teses de mestrado e doutorado, formando verdadeira legião de discípulos (entre os quais me incluo). Por 3 anos foi o Representante Nacional da Pesquisa em Direito do CNPQ. É integrante do Comitê de Avaliação da CAPES e membro do Conselho Editorial de importantes Revistas Jurídicas nacionais.

 Atualmente está envolvido em projetos científicos de grande envergadura, sobretudo no campo da hermenêutica e interpretação constitucional. Cito os Comentários à Constituição de 1988, obra coletiva editada conjuntamente pelas editoras Saraiva e Almedina, de Portugal. Acabo de tomar conhecimento que artigo de sua autoria, redigido em língua alemã, acabou de ser aprovado com entusiasmo pelo afamado jurista Peter Härberle para publicação naquele país.

 Mas hoje, senhores e senhoras, é dia de homenagem e agradecimento. Homenagem ao mestre de gênio forte, muitas vezes explosivo, contundente e polêmico. Mas que tem na sinceridade, no caráter e honestidade de propósitos os aspectos mais marcantes de sua personalidade. Um mestre que poderia estar pontificando nos grandes centros de pesquisa jurídica, mas que escolheu o Estado de Alagoas para exercer seu sacerdócio. É preciso agradecer também ao Diretor que muitas vezes sacrificou sua produção científica para dedicar-se à gestão da FDA, enfrentando todas as com destemor as dificuldades da função.

 Seu grande sonho era entregar o cargo com a conclusão das obras físicas concluídas. Como seria significativo que a realização desta solenidade ocorresse no auditório! Mas a reforma do prédio passou por diversos percalços e entraves burocráticos que atrasaram a conclusão das obras.

 Todos sabemos que a alternância de poder é um dos pilares da democracia. A ocupação de cargos eletivos é transitória. É chegada a hora de passar o bastão e enfrentar novos desafios com o mesmo entusiasmo e coragem. É um ciclo que se encerra, abrindo espaço para o inusitado. O importante é a consciência do dever cumprido, a certeza de que, com todos os erros e acertos, fizemos o que estava a nosso alcance. A consciência da efemeridade dos cargos eletivos, talvez seja uma das maiores virtudes do homem público.

 Se alguém me perguntasse qual o legado deixado pelo professor Andreas eu responderia sem hesitar: um excelente corpo docente, aprovado em concursos públicos sérios e rigorosos. Uma nova geração de professores que desponta com o fulgor da juventude e o brilho da inteligência. E acrescentaria: uma equipe unida que, a partir de agora, será coordenada pelo professor José Barros, depositário de nossas mais legítimas esperanças.

 Concluo, meus caros amigos, com um singelo poema de Antoine de Saint-Exupéry:

Aqueles que passam por nós

Não vão sós

Não nos deixam sós

Deixam um pouco de si

Levam um pouco de nós.

 

Muito obrigado!