Apresentação

O enfoque nas dinâmicas do espaço habitado tem suscitado uma atenção especial para com a revisão crítica das teorias e das práticas de percepção e representação, concepção, construção e adequação, apropriação, organização e gestão dos espaços.

Essa postura implica a definição de um esquema teórico-analítico de partida, isto é, de uma grade analítica que permita contextualizar cada um dos múltiplos temas correlatos e relacioná-los. Por essa razão, os temas específicos suscitados pela problemática mais abrangente das dinâmicas do espaço habitado têm sido objeto de três enfoques principais integrados e inter-relacionados, que corresponde às três linhas de pesquisa do Programa.

 

  1. CONCEITUAÇÃO, PERCEPÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO HABITADO: focaliza os aspectos da vivência e da percepção dos espaços, buscando refletir sobre a temática da criação contemporânea e sobre os processos históricos,  vinculados à conformação e configuração do espaço habitado.
  2. CONCEPÇÃO, CONSTRUÇÃO E ADEQUAÇÃO DO ESPAÇO HABITADO: compreende o estudo dos vários processos de produção do espaço construído assim como dos arcabouços conceituais, formais e tecnológicos que dão suporte ao desenvolvimento de projetos de conformação de espaços arquitetônicos, paisagísticos e urbanísticos destinados às atividades humanas.
  3. APROPRIAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO ESPAÇO HABITADO: enfoca o espaço habitado em suas múltiplas conformações, configurações e dimensões concretas como resoluções de necessidades e exigências sociais (históricas, políticas, econômicas e culturais), assim como campo de desenvolvimento de novas sociabilidades e de organização social.

 

A proposta geral sugere uma tematização bastante ampla dos enfoques a serem dados à problemática do espaço habitado. Tal nível de generalidade é necessário e estratégico no universo científico e acadêmico contemporâneo, onde cabe abrir possibilidades a todas as tendências de pensamento e atitude para o diálogo com e na academia, condição de legitimidade histórico-social desta última. Essa tematização deve dar conta o mais amplamente possível do quadro analítico da arquitetura, do urbanismo, do paisagismo e demais especialidades, ressalvando que essa generalidade não deverá ser algo fluido e anárquico.

A realidade social e concreta das localidades constitui o filtro através do qual as possibilidades de tematização encontram referências onde legitimar as problemáticas desenhadas e os conhecimentos produzidos. Desse modo, a busca do diálogo do indivíduo e do lugar com a universalidade é sempre, inevitavelmente, mediada pela particularidade. Daí que os projetos de pesquisas e de dissertação devem refletir e até enfatizar a particularidade, isto é, a base concreta de onde nascem os temas de investigação e onde são buscados os elementos de demonstração das hipóteses e teorias formuladas.

Além dos aspectos já assinalados, a proposta do DEHA destaca-se também pela intenção de concentrar os esforços de especialidades distintas na construção de um referencial comum que é o entendimento do conceito de "dinâmica do espaço habitado". Para isso, parte-se de um ponto de vista que consiste em compreender a configuração do espaço habitado como resultado de uma síntese de processos que dizem respeito a experiências humanas acumuladas ou em desenvolvimento no tempo, contínuas ou esporádicas, parciais ou globais, integradoras ou excludentes, transformadoras ou não do quadro sócio cultural e tecnológico, configurando formas e conferindo conteúdos aos espaços da existência individual e social.

Outro destaque a ser feito sobre a proposta do DEHA é que, ao se eleger como objeto de reflexão o "espaço habitado" e não o "espaço construído", o Programa propõe-se a investigar não apenas as dinâmicas da produção do espaço arquitetônico, urbanístico e paisagístico, mas a compreensão do espaço que toma sentido quando habitado pelos indivíduos, grupos e formações sociais. Assim, ele propõe horizontes de referência mais largos, não apenas vinculados ao edificado, mas também abarcando o meio ambiente, a paisagem, o corpo. No lugar de concentrar a atenção apenas no objeto a construir ou já construído, a ênfase nas dinâmicas engloba os processos de conformação do espaço físico que os indivíduos e os grupos sociais dele se apropriam e moldam para as suas necessidades históricas, funcionais, afetivas e simbólicas. Nas pesquisas em andamento, coordenadas pelos docentes do Programa, assim como nas dissertações em elaboração, procura-se demonstrar a adequação e a viabilidade desse enfoque.