Ufal articula ações de pesquisa e extensão em prol da Bacia do São Francisco

O professor Melchior Nascimento do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente é o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco

23/07/2014 11h15 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h26
Anivaldo Miranda em reunião com a vice-reitora Rachel Rocha

Anivaldo Miranda em reunião com a vice-reitora Rachel Rocha

Diana Monteiro - jornalista 

Da descoberta da foz em 4 de outubro de 1501, pelo navegador Américo Vespúcio, um ano depois do Descobrimento do Brasil, o Opará (rio-mar), nome dado ao São Francisco pelas diversas nações indígenas que habitavam a região, já se vão mais de cinco séculos. Muitas são as histórias a contar e muitas são as lutas a travar ao longo dos cerca de 3 mil quilômetros de extensão do Rio São Francisco: de sua nascente, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até a foz no litoral de Alagoas, pelo Comitê que leva o seu nome. Ele foi criado em 2001 para a defesa do famoso rio conhecido também como “Rio da Integração Nacional”, cuja bacia hidrográfica está distribuída em quatro regiões: Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco. 

A Universidade Federal de Alagoas é uma importante aliada na luta liderada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CHBSF) e é representada pelo professor Melchior Carlos do Nascimento, do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente (Igdema), do Campus A.C. Simões. Mas já passaram pelo comitê como representantes da Ufal os professores Valmir Pedrosa, do Centro de Tecnologia (Ctec) e atual pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, e Márcio Aurélio Lins dos Santos, do Campus Arapiraca. 

A Ufal ocupa, no segmento civil, posição estratégica no Comitê como articuladora das ações de pesquisa e extensão junto às instituições técnicas e de ensino superior para a consolidação e democratização da política nacional de recursos hídricos com participação ativa no debate que trata dos usos múltiplos das águas do Velho Chico. Mas trabalhar para garantir a ampliação de suas ações, que tem extrapolado as fronteiras alagoanas, é uma das metas do professor Melchior, eleito este ano como coordenador da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco (CCR Baixo).“No que cabe à academia, a nossa intenção, como representante da Ufal, não é restringir o trabalho apenas ao Baixo São Francisco, mas ao longo de toda a bacia hidrográfica”, frisa. 

Para essa finalidade, a coordenação tem participado da articulação do Comitê para envolver nas ações acadêmicas e científicas as principais instituições de ensino superior que estão na bacia hidrográfica do Rio São Francisco. O primeiro encontro com esse objetivo está marcado para o dia 22 de agosto, durante a realização do 2º Alagoas Caiite. “Em Alagoas já contamos com o envolvimento da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) e estamos trabalhando para aglutinar no segmento acadêmico as demais instituições locais", destaca o professor Melchior. 

As principais instituições que estão na bacia hidrográfica do São Francisco são as seguintes: Universidade Federal de Alagoas; Universidade Federal de Sergipe; Universidade Federal de Pernambuco; Universidade Federal Rural de Pernambuco; Universidade Federal da Bahia; Universidade Federal do Oeste Baiano; Instituto Federal de Alagoas; Instituto Federal de Sergipe; e Universidade Federal de Minas Gerais. 

Contribuição científica 

A intimidade da Ufal com o São Francisco antecede à criação do Comitê, por ser o rio importante campo de estudos científicos para diversas áreas do conhecimento das seguintes unidades acadêmicas: Instituto de Geografia Desenvolvimento e Meio Ambiente (Igdema); Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS); Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat); Centro de Tecnologia (Ctec); Museu de História Natural; e Unidade Penedo, com os cursos de Engenharia de Pesca, Turismo e o recém- implantado curso de Biologia. 

O professor Melchior Nascimento cita a pesquisa sobre “A influência da penetração da água do mar no rio São Francisco e os efeitos (danos) para o ecossistema da foz”, realizada pelo professor Paul Petter, do Igdema da Ufal, como exemplo de estudo científico no Baixo São Francisco. Na Unidade de Ensino de Penedo também há pesquisas que apontam a importância da foz para a produção de algumas espécies de peixes para o litoral do Nordeste. 

A Universidade Federal de Alagoas tem como papel contribuir para o desenvolvimento da pesquisa e extensão buscando o conhecimento científico e a qualificação de recursos humanos. O presidente do Comitê do São Francisco, Anivaldo Miranda, é um dos grandes incentivadores dessa união com a academia, por considerar fundamental a discussão do conhecimento. É papel do Comitê articular todos os segmentos da sociedade civil, dos usuários da água e do poder público, em prol da gestão dos recursos hídricos e do desenvolvimento sustentável na bacia do São Francisco. “ O comitê espera que a academia possa contribuir em duas frentes fundamentais: a pesquisa que dê suporte técnico e científico para a solução de alguns dos principais conflitos pelo uso da água, e com atividades de extensão quanto à conscientização ambiental das populações ribeirinhas", enfatizou Anivaldo. 

Expedição científica 

Em julho 2013 a Universidade Federal de Alagoas participou durante três dias de uma expedição, que percorreu 250 quilômetros no Baixo São Francisco e fez visitas a 25 localidades entre os Estados de Alagoas e Sergipe, para elaboração do relatório sobre a baixa vazão do rio nessa região. Também participaram da expedição pesquisadores das universidades federais de Sergipe (UFS), Minas Gerais (UFMG), Bahia (UFBA) e Rural de Pernambuco (UFRPE). O objetivo foi produzir um “Raio - X” da situação e manter o monitoramento junto aos moradores da região do Baixo São Francisco. 

Melchior informa que a expedição foi definida quando as usinas hidroelétricas declararam que iriam reduzir a vazão no Baixo São Francisco para 1.100m³/s ( mil e cem metros cúbicos por segundo), valor abaixo do pactuado pelo plano Decenal da Bacia Hidrográfica (atualmente em processo de atualização). 

O relatório se transformou em documento para o Comitê do São Francisco e entre as informações descreve as características físicas e socioambientais da região apontando indicadores sociais como população, educação, saneamento e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Apresenta também, uma sinopse dos impactos decorrentes das regularizações e restrições da vazão na região e os efeitos imediatos para a dinâmica fluvial. Segundo Melchior, a restrição das águas, atualmente sob o controle do setor elétrico, tem afetado a vida dos usuários em vários aspectos e em diversas atividades existentes. 

Conheça o Comitê do Rio São Francisco 

Criado por meio do decreto presidencial em 5 de junho de 2001, mas com diretorias executiva e colegiada eleitas em 2003, o Comitê Hidrográfico da Bacia do São Francisco (CHBSF), é formado por 62 membros dos Estados de Alagoas, Bahia, Sergipe, Minas Gerais, Distrito Federal e Pernambuco. É presidido pelo jornalista e ambientalista alagoano Anivaldo Miranda e cabe também ao comitê a elaboração de planos, programas, projetos e estudos relacionados com o futuro da bacia hidrográfica.