Jornalista de projeto comunitário da Favela da Maré apresenta experiência no Enecom

Com apenas vinte anos, Thaís Cavalcante já tem 4 anos de prática em jornalismo comunitário

21/07/2014 14h25 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h26
Thaís Cavalcante, jornalista e futura estudante de Jornalismo

Thaís Cavalcante, jornalista e futura estudante de Jornalismo

Lenilda Luna - jornalista

Os 700 estudantes de todo o País participantes do Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação Social (Enecom), realizado no campus da Ufal até 26 de julho, contam com uma programação variada de painéis, oficinas, núcleos de vivência e atividades culturais que abrangem conteúdos acadêmicos, mobilizações sociais, linhas de pesquisa e experiências práticas em comunicação. Entre os participantes, está uma jovem de 20 anos que ainda não é estudante de Jornalismo, mas já tem muita experiência para compartilhar. 

Thaís Cavalcante ainda era estudante do ensino médio quando, aos 16 anos, entrou em contato com o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), no conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, localidade onde mora desde que nasceu. Ela ainda não sabia bem o que pretendia fazer na universidade, então, como gostava muito de escrever, foi orientada a conhecer o projeto do jornal O Cidadão, um instrumento de comunicação comunitária, criado há 14 anos, que mantém um jornal impresso com tiragem de 20 mil exemplares, distribuído para as 16 favelas que formam o complexo da Maré, com cerca de 130 mil habitantes.

A estudante começou a colaborar voluntariamente com alguns textos e participou do curso de Comunicação Comunitária oferecido pelo Ceasm, para capacitar alguns moradores a escreverem para o jornal. "A partir daí, adquiri outra visão sobre minha própria história. Eu sempre fui moradora da favela da Maré, mas era de alguma forma influenciada pela visão negativa exposta na mídia comercial e não gostava do lugar em que morava por ser associado ao tráfico de drogas e à violência. Quando me tornei jornalista comunitária, percebi outro lado, com muitos aspectos positivos, como a vida cultural e as muitas atividades de destaque desenvolvidas por moradores da favela", contou.

Exercendo as atividades de comunicação comunitária, Thaís conheceu melhor todo o conjunto de favelas e a vida dos moradores. "Eu não saia muito da minha comunidade, mas como jornalista, fui a todas as 16 favelas que integram a Maré. Conheci muitas pessoas, acompanhei muitos projetos. Existe uma efervescência cultural na favela que pouca gente conhece, porque não é divulgada. Ali, temos acesso a cursos gratuitos de línguas, dança, esportes, informática e uma série de atividades promovidas por movimentos sociais e projetos governamentais. Eu passei a me identificar com minha comunidade e a me sentir mais atuante nela", destacou.

Além de aprender a produzir textos, Thaís foi chamada a participar da rádio comunitária. "Fiz muitas entrevistas, até com visitantes estrangeiros que foram conhecer o conjunto de favelas da Maré, em função de projetos internacionais de apoio comunitário", contou a estudante. Com essa experiência prática, a jornalista pretende investir na profissionalização. "Concluí o ensino médio há dois anos. Fiz Enem e passei em Letras na UFRJ, mas não estou cursando porque o meu objetivo é Jornalismo. Vou prestar de novo o Enem e fazer a inscrição no Sisu, porque da próxima vez que participar do Enecom, quero ser estudante de Jornalismo", previu.

Apesar de não ser formada em Jornalismo, pela experiência prática e pelos cursos que fez na comunidade, Thaís Cavalcante já é jornalista com registro profissional emitido pelo Ministério do Trabalho. "Sou profissional e gosto do que faço. Aconteceu dessa forma comigo, mas isso não me faz de forma alguma desmerecer a formação acadêmica e a importância do diploma de Jornalismo. Ainda que eu tenha começado a atuar na área antes de me formar, quero sim fazer a faculdade de Comunicação e conquistar minha graduação. Também quero pesquisar sobre jornalismo alternativo, porque percebi que esta linha ainda não tem o peso que merece nos currículos dos cursos das faculdades de Comunicação Social", destacou Thaís Cavalcante.