Pesquisa de Mestrado de Serviço Social fala da relação do homem com a natureza

Ana Claudia do Nascimento Santos analisou os modos de produção atuais e como afetam negativamente o meio ambiente

20/06/2014 16h48 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h27
Ana Claudia do Nascimento Santos é a primeira ex-aluna de Serviço Social da Unidade da Ufal em Penedo a concluir mestrado

Ana Claudia do Nascimento Santos é a primeira ex-aluna de Serviço Social da Unidade da Ufal em Penedo a concluir mestrado

Pedro Barros - estudante de Jornalismo

Quando terminou sua graduação em Serviço Social, a arapiraquense Ana Claudia do Nascimento Santos foi a primeira ex-aluna a apresentar uma dissertação de mestrado. Vindo da primeira turma do curso da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em Palmeira dos Índios, a estudante decidiu tratar, na sua pós-graduação, de um tema pouco abordado em sua área: a natureza.

Em A relação homem/natureza: a destruição da natureza na sociabilidade capitalista, a pesquisadora quis investigar a essência da crise ambiental no contexto social do capitalismo com base nas teorias de Karl Marx - principalmente em textos de seus manuscritos de 1857 a 1858, os Grundrisse - e seguidores de sua linha de pensamento, como Friedrich Engels, George Lukács e István Mészáros.

A autora faz uma comparação de como era a relação do homem com a natureza nos modos de produção primitivo e capitalista, segundo a categorização marxiana. "Na fase primitiva, com a economia baseada na agricultura e na pecuária, o homem ainda era detentor dos meios de produção, sua relação com a terra era direta e os bens produzidos serviam tanto para o trabalhador quanto para sua família", explicou a Ana Claudia.

Na organização do trabalho pós-indústria, disse ela, os trabalhadores que perderam o acesso à terra tiveram de vender sua força de trabalho para o capitalista, saindo da cooperação e da manufatura para a revolução industrial. "O trabalho é um intercâmbio orgânico entre o homem e a natureza. A medida que desenvolve o modo de produção, chegando à revolução industrial, o homem começa a se pensar cada vez mais afastado da natureza. No entanto, mesmo constituindo-se um ser social, ele não deixa de ser natureza", explicou.

O acesso do trabalhador à natureza não é mais direto, explica a autora. "Na indústria, tudo passou a ser mediado pela máquina, pelo artificial, isso quando o trabalhador não é substituído por ela", disse. "As consequências são desemprego, miséria e o aprofundamento da destruição da natureza, com a poluição do solo, da água e da atmosfera".

Destruir para produzir

A dissertação cita que Engels, no século 19, já falava da poluição dos rios. "Isso pode ser visto no livro A Situação da classe trabalhadora na Inglaterra", explica. Segundo ela, o desequilíbrio ambiental causado pelo ser humano vem de um processo mais amplo que ações isoladas, como jogar lixo na rua, mas encontra-se na origem e no desenvolvimento da lógica de produção capitalista. "O ser humano sempre precisou explorar a natureza para garantir sua sobrevivência, mas atualmente essa prática tem implicado na completa destruição dos recursos naturais, como nunca antes na história", lamenta.

O texto afirma que, a partir da década de 70, depois de uma crise estrutural, a produção capitalista passou a buscar novas formas de explorar o trabalhador e a natureza e critica o chamado "complexo militar-industrial", o mercado bilionário em torno da produção e pesquisa armamentista. "O capital passa a destruir para produzir e a produzir para destruir", resume.

Em entrevista, a autora citou a obsolescência programada como uma das consequências da busca sem regras pelo lucro e mostrou alguns exemplos divulgados pelo documentário The Light Bulb Conspiracy (A conspiração da lâmpada, em inglês), da cineasta Cosima Dannoritzer: impressoras que eram fabricadas com um limite de impressões e lâmpadas elétricas, que em 1920 já tinham capacidade de funcionar por mais de 1 mil horas, porém, na mesma época, tinham sua duração determinada por fabricantes. Ana Claudia espera publicar seu trabalho acadêmico como livro. "Há carência de profissionais do serviço social trabalhando nessa área. Essa forma de tratar a destruição da natureza é específico do Serviço Social", explicou.

Programa de Pós-Graduação em Serviço Social

Defendida em abril, a dissertação de Ana Claudia teve como orientadora a professora Edlene Pimentel Santos. Maria das Graças e Silva, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e autora do livro Questão ambiental e desenvolvimento sustentável: um desafio ético-político ao serviço social, foi examinadora externa; Gilmaisa Macedo da Costa, como professora da Ufal, foi a examinadora interna.

O Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Ufal, criado em 2003, oferece anualmente 15 vagas de mestrado para profissionais de Serviço Social e áreas afins. As linhas de pesquisa buscam analisar tópicos como trabalho, políticas e direitos sociais dentro da realidade social brasileira. Veja mais informações visitando o site do PPGSS.