Pesquisa comprova eficácia de composto derivado de planta na cicatrização de feridas cutâneas

O estudo, desenvolvido no Laboratório de Biologia Celular, utilizou o uvaol presente na constituição da planta Aloe vera e no azeite de oliva

02/04/2014 11h56 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h27
Professor Emiliano Barreto (em pé) orientador da pesquisa do Mestrado em Ciências da Saúde de Paulo Carvalho

Professor Emiliano Barreto (em pé) orientador da pesquisa do Mestrado em Ciências da Saúde de Paulo Carvalho

Diana Monteiro - jornalista

A cicatrização de feridas mostra-se como um evento complexo que envolve diferentes células e moléculas capazes de interagir para proporcionar a reconstituição do tecido e também afeta diretamente a qualidade de vida do indivíduo. A ferida é considerada como um preocupante problema clínico por oportunizar no curso do processo cicatricional, o aparecimento de infecções que podem evoluir para quadros clínicos mais severos.

Pesquisa inédita desenvolvida no Laboratório de Biologia Celular da Universidade Federal de Alagoas demonstrou o efeito cicatrizante do composto triterpeno uvaol em feridas na pele. O triterteno uvaol é encontrado na conhecida planta Aloe vera e no azeite de oliva, ambos cientificamente comprovados como cicatrizantes. Estudos apontam também a eficácia do uvaol como anti - inflamatório, antialérgico e imunomodulador.

Denominado de “Triterpeno pentacíclico, o uvaol acelera cicatrização de feridas cutâneas em camundongos”, o estudo se desenvolveu durante o Mestrado em Ciências da Saúde realizado pelo odontólogo Paulo Sérgio de Melo, sob a orientação do professor Emiliano Barreto, professor de Biologia Celular e Molecular do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS). “A cicatrização das feridas provocadas nos animais se deu em torno de 12 dias, onde geralmente na pele humana, sem nenhum tratamento, leva entre 16 e 17 dias, isto em condições fisiológicas normais”, frisa Paulo Carvalho.

Ele destaca que nos Estados Unidos estima-se que cerca de 7 milhões de pessoas sofram a cada ano com problemas decorrentes de falhas no processo de cicatrização de feridas cutâneas, e na Índia estudos epidemiológicos apontam que a prevalência de feridas crônicas afeta cerca de 5 pessoas a cada mil habitantes.
Assim como na Índia, a China, por exemplo, é detentora de práticas tradicionais antigas e possui informações valiosas de várias plantas usadas por curandeiros para o tratamento de feridas e queimaduras crônicas. No Brasil, que detém 20% de toda a diversidade de plantas e microorganismos existentes no planeta, também é comum o uso de produtos naturais como terapia alternativa para a cura de doenças.

Segundo Paulo Carvalho, mesmo com a privilegiada biodiversidade brasileira as pesquisas sobre potencial cicatrizante de produtos de origem natural obtidos de plantas nativas no país ainda são escassas. ”Mesmo assim, a diversidade molecular encontrada nas plantas é a principal razão que tem motivado várias corporações farmacêuticas a direcionarem seus estudos na busca de protótipos que possuam atividades inibitórias ou antagonistas com alvos biológicos bem definidos”, destaca.

Ele reforça que a pesquisa é inédita e poderá servir de base para aprofundamento de estudos de outros pesquisadores, a exemplo das também concluintes do Mestrado em Ciências da Saúde na Universidade Federal de Alagoas, Laís Agra e Rebeka Mello que comprovaram respectivamente, ter o triterpeno uvaol eficácia como antialérgico e imunomodulador.
Eficácia do composto uvaol
Sobre os experimentos realizados, Paulo Carvalho informa que as lesões cutâneas que foram tratadas com concentrações variadas de uvaol (0,01%, 0,1% e 1,0%) apresentaram uma aceleração no processo de cicatrização maior do que o conhecido medicamento Fibrase, disponível no mercado para fins cicatrizantes.

Paulo complementa e diz que para o acompanhamento da cicatrização, as feridas foram analisadas diariamente por meio de fotografias e por um programa de computador específico para a medição da área lesada. “Constatou-se que nas feridas tratadas com as três concentrações do composto houve um percentual de fechamento da ferida superior aos tratados com soro fisiológico e com o medicamento Fibrase”, diz.

O pesquisador adiantou ainda, que o tratamento tópico com uvaol também não demonstrou sinais de toxicidade sistêmica após uso prolongado. A análise histopatológica mostrou que o triterpeno uvaol induziu uma melhor organização tecidual, bem como um aumento na deposição de colágeno em relação ao grupo tratado com solução salina. “Quando incorporado a um creme, o uvaol manteve sua propriedade de cicatrizar feridas cutâneas, indicando que este princípio ativo mantém suas propriedades, mesmo quando sob formulação farmacêutica”, enfatiza Paulo.

Paulo Carvalho disse que mesmo os estudos sendo pré - clínicos, a pesquisa atingiu o objetivo: “Demonstrou que o triperteno uvaol tem ação cicatrizante e, até o momento, não observamos nenhum efeito colateral associado ao uso tópico”, reforçou.