Pesquisa indica o uso da própolis vermelha no tratamento da leishmaniose

Doença está presente em vários municípios alagoanos e a pesquisa é uma das ações do projeto, coordenado pela professora Camila Braga Dornelas

12/12/2013 10h40 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h29
Pesquisadora coordena a cartilha sobre a doença

Pesquisadora coordena a cartilha sobre a doença

Diana Monteiro - jornalista

A leishmaniose é uma doença infecciosa, porém não contagiosa causada por protozoários e transmitida pela picada de um inseto infectado conhecido como mosquito - palha, também denominado de mosquito – branco ou mosquito – de – parede. Os animais silvestres são os principais reservatórios da doença, sendo o cão o principal reservatório na área urbana, mas a transmissão não ocorre de um animal para o outro por contato direto. Entre as formas da doença transmitidas ao homem estão a leishmaniose visceral (ou Calazar) e a leishmaniose tegumentar americana.

Na Universidade Federal de Alagoas, um grupo de pesquisadores realiza estudos científicos para o desenvolvimento de uma formulação contendo própolis vermelha do Estado e derivados, para o tratamento tópico das feridas em humanos provocadas pela leishmaniose tegumentar. O projeto conta com a parceria de órgãos financiadores e instituições locais e nacionais e tem a coordenação da professora Camila Braga Dornelas, da Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar).

No Estado sobressaem-se como áreas endêmicas da leishmaniose tegumentar os municípios do Vale do Paraíba, Zumbi e Litoral Norte, além de São José da Tapera, São Brás, Feliz Deserto, Barra de São Miguel e Satuba. Quanto à leishmaniose visceral, as maiores médias foram registradas nos últimos anos em municípios desde o Alto sertão, até o Agreste e Baixo São Francisco, destacando-se também Barra de Santo Antônio e São Luís de Quitunde, com a incidência da doença.

O projeto já tem a aprovação do Comitê de Ética da Ufal para ser avaliado em pacientes diagnosticados pela doença e captados pelo Hospital Escola Hélvio Auto, que é referência no Estado no tratamento da doença. O tratamento, disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é feito pelos chamados fármacos antimoniais. A medicação é administrada pela via parenteral, requer um longo período de tratamento e apresenta vários severos efeitos adversos.

A pesquisadora Camila Braga destaca que é muito comum o paciente abandonar o tratamento antes da conclusão. "Para se ter ideia do quão é negligenciada a leishmaniose, esta classe de fármacos (antimoniais), mesmo causando vários efeitos adversos, é utilizada há 100 anos. Para o tratamento tópico das lesões causadas pela leishmaniose tegumentar ainda não há fármaco e vamos pesquisar a própolis vermelha para verificar o seu potencial como medicação específica”.
Os estudos científicos se darão no Laboratório de Tecnologia de Nanosistemas Carreadores de Substâncias Ativas (TecNano), da Ufal que está sob a sua coordenação na Esenfar. “A evolução das lesões produzidas pela leishmaniose tegumentar pode comprometer o convívio social do paciente, por causar desfigurações”, frisou Camila.

Conforme dados do Ministério da Saúde, no Brasil atualmente foram identificadas sete espécies diferentes responsáveis pela doença humana, e mais de 200 espécies de flebotomíneos implicados em sua transmissão. A leishmaniose é uma doença que acompanha o homem desde tempos remotos e mesmo não havendo nos últimos 20 anos um aumento considerável no número de casos, há uma ampliação de sua ocorrência geográfica. É encontrada atualmente em todos os estados brasileiros, sob diferentes perfis epidemiológicos e por ter associação a outras infecções como é o caso da co -infecção HIV – Leishamania, é considerada uma doença reermergente.

Transmissão, sintomas e prevenção

O flebotomíneo, inseto transmissor, possui uma coloração amarela, parecida com a cor da palha do milho e apresenta corpo revestido de formações quitinosas, parecidas com pelos. Ele realiza voos curtos, é menor que um mosquito comum e sua picada é dolorida. Além dos exames clínicos feitos pelo médico no momento da consulta, existem também os exames laboratoriais parasitológicos e imunológicos.

No ser humano os principais sintomas da leishmaniose visceral são febre, aumento do abdômen, palidez, emagrecimento, e em alguns casos, podem ocorrer tosse, diarreia e taquicardia. Em animais domésticos e silvestres, a doença causa, principalmente apatia, lesões aparentes na pele, queda de pelos, emagrecimento, aumento do abdômen, crescimento das unhas e lesões ao redor dos olhos.

Na leishmaniose tegumentar ou cutânea tanto no homem quanto nos outros animais, após a picada do mosquito, de duas a três semanas ou em até dois anos, aparece uma pequena pápula (elevação da pele), normalmente indolor, e aumenta de tamanho até formar uma ferida de demorada cicatrização recoberta por crosta ou secreção purulenta. A doença também pode se manifestar como lesões inflamatórias nas mucosas do nariz ou da boca. Podem também ocorrer febres longas (até dois meses), falta de apetite, fadiga e fraqueza progressiva.


A leishmaniose, como doença negligenciada, está normalmente associada a áreas carentes, de menor poder aquisitivo e medidas simples poderiam reduzir sua ocorrência, tais como: áreas livres de fezes de animais, de acúmulo de lixo, de folhas e restos de alimentos, além do uso de repelentes e manutenção de criadouros de animais afastados da residência. “O tratamento da leishmaniose no cão é proibido no Brasil e havendo a suspeita de infecção é indicado que o proprietário do animal procure o médico veterinário ou o Centro de Controle de Zoonose (CCZ)”, frisou Camila Braga.

Pesquisas na área e parcerias

A professora Camila destaca que as pesquisas sobre leishmaniose realizadas pelo grupo coordenado tiveram início em 2009. O projeto para a formulação da própolis vermelha para tratamento envolvendo outras ações na capital e no interior do estado foi aprovado este ano pelo conhecido edital PPSUS/Fapeal. Uma das primeiras atividades contempladas foi o lançamento do informativo “Leishmaniose: Infecciosa sim, contagiosa não”, na 6ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, distribuído à comunidade visitante.

Nesses quatro anos o estudo sobre a leishmaniose na Esenfar resultou em vários projetos consolidados em trabalhos de conclusão de curso (tccs), trabalhos científicos apresentados em eventos diversos e na submissão de um artigo científico. Destacam-se como colaboradores o Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) e Instituto de Física (IF).

Além da Ufal, as ações do projeto coordenado pela professora envolve uma equipe multidisciplinar de pesquisadores do Centro de Ensino Superiores de Maceió (Cesmac), o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, da Fiocruz, em Pernambuco e participação de alunos. Ainda são parceiros, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e Secretaria Municipal de Saúde de Maceió.

Segundo a professora Camila Braga, está prevista para fevereiro de 2014 a conclusão do primeiro mestrado na área a ser apresentado pela aluna Janaína Barros de Menezes. O mestrado integra o Programa de Pós- Graduação (PPG) em Ciências da Saúde da Ufal.

O projeto empreenderá ações a partir de 2014 com visitação as áreas endêmicas: “o informativo servirá de base para a equipe multidisciplinar no projeto com a finalidade de levar as principais informações sobre a doença às regiões mais acometidas, a serem visitadas durante o próximo ano pelos pesquisadores”, afirma a coordenadora Camila Braga. Para conhecer o informativo acessar o link: http://issuu.com/ascomufal/docs/infoleishmaniose.