Não se perca na Bienal!

O crescimento é evidente: em 2007 foram cerca de 100 mil visitantes, contra a metade desse total em 2005. Prestes a dar a largada em sua quarta edição, a Bienal Internacional do Livro de Alagoas exibe números de peso para um evento realizado num estado cuja maioria da população é analfabeta. Serão mais de 20 mil volumes, de mais de 300 editoras comerciais e universitárias, além de mais de 100 lançamentos.

29/10/2009 09h01 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h43
Recepção da Bienal anterior, realizada em 2007

Recepção da Bienal anterior, realizada em 2007

Ramiro Ribeiro – jornalista

Publicado no Jornal Gazeta de Alagoas, em 25 de outubro de 2009

Numa cidade que viu suas (poucas) livrarias sumirem do mapa, será uma boa chance para reforçar a biblioteca, ainda que a ausência de editoras de grande porte entre os expositores continue a ser motivo de queixa por parte dos leitores. Com entrada franca, a bienal é atração entre os dias 31 de outubro e 08 de novembro no Centro de Convenções. Na programação, oficinas, palestras e inúmeras outras atividades, sem falar da presença de escritores como Ruy Castro, Ondjaki e Ignácio de Loyola Brandão. Para facilitar a vida de quem aprecia a leitura, neste domingo a Gazeta traz uma seleção do que de mais interessante vai rolar no evento. Confira e anote na agenda

Amantes do livro, marquem na agenda: 2009 é ano de Bienal do Livro. Oportunidade para "vasculhar" as prateleiras dos expositores atrás de alguma preciosidade ou pechincha que normalmente não encontramos em nossa cidade,há muito carente de livrarias com uma diversidade mínima de títulos. Serão mais de 20 mil volumes, de mais de 300 editoras comerciais e universitárias, quase 200 lançamentos - 70 apenas da Edufal, editora da  Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que organiza o evento - e a representação de México, Peru, Colômbia, Costa Rica, Portugal e dos países africanos de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau e Moçambique), além da França, país homenageado desta quarta edição.

Em meio a uma crise de formato que mostrou seus sinais nas últimas edições paulista e carioca, a IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas ainda experimenta um momento de expansão. A cada edição é maior a quantidade de títulos e editoras participantes. A consolidação do evento pode ser constatada no número crescente de visitantes: 50 mil em 2005 e 102 mil em 2007. A previsão para este ano varia de 120 a 130 mil. São esperados também cerca de 40 mil estudantes das redes pública e particular de ensino. Para entreter o público infantil, estão agendadas apresentações teatrais e sessões de contação de histórias, além de atrativos como o maior livro do mundo, uma edição de O Pequeno Príncipe, do francês Antoine de Saint-Exupéry, um caça-palavras gigante e uma enorme palavra-cruzada.

Um dos pontos a destacar na Bienal 2009 é a diversificação das atividades, que se propõem a atender os vários tipos de público que por ela passarão. Mais de 150 palestras, debates, eventos e oficinas estão agendados. Na sala que recebe o nome do patrono, o professor alagoano José Marques de Melo, autores locais, brasileiros e estrangeiros vão debater os mais diversos assuntos. Estão confirmadas as presenças dos escritores Ruy Castro, Ignácio de Loyola Brandão, da atriz/autora Maitê Proença, do francês Ignacy Sachs e do angolano Ondjaki.

Vários eventos ocorrerão simultaneamente nas dependências do Centro Cultural Cultural e de Exposições Ruth Cardoso. Os destaques: Fórum Ibero-Americano de Editoras Universitárias; II Colóquio Internacional Brasil x Áfricas: Artes, Culturas e Literaturas; seminário de comemoração dos 220 anos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, além do V Encontro Estadual do Proler, do III Encontro de Gestores de Bibliotecas Públicas e do II Fórum do Plano Estadual do Livro e da Leitura. Das 52 oficinas, 14 têm caráter inclusivo, ou seja, são destinadas a portadores de deficiências intelectuais e múltiplas. O site do evento (www.edufal.com.br/bienal2009) também atende esse quesito, funcionando segundo as normas de acessibilidade. No endereço eletrônico há ainda toda a programação de oficinas, palestras, atividades nos estandes e lançamentos no Café Literário.

Para deixar o leitor por dentro do que de melhor vai rolar na quarta edição da Bienal Internacional do livro de Alagoas, a Gazeta preparou uma edição especial com os principais destaques da programação. Tudo para você não perder tempo e ir direto ao que interessa – aos livros e, claro, às ideias. Não perca.

Alagoas vive expansão em meio à crise

Formato contestado no Brasil e no exterior ganha corpo na versão alagoana; organizadores esperam movimentar R$ 2 milhões

Mas nem tudo são flores no mercado livreiro. Também há percalços no segmento. O formato de grandes feiras é contestado, aqui e no exterior. A Feira de Frankfurt, maior referência do setor, sofreu este ano uma queda de 4,5% no número de visitantes em relação ao ano anterior e viu estandes encolherem de tamanho, isso sem falar do não-comparecimento de várias editoras americanas e do leste europeu, reflexo da crise financeira mundial. O debate sobre a digitalização do livro marcou o evento, que bateu o recorde de produtos eletrônicos comercializados.

No Brasil, as bienais de São Paulo e Rio de Janeiro, realizadas em anos alternados, também sofrem com esses problemas. E recebem críticas em relação ao formato e ao tamanho. Escritores têm se posicionado contra um possível caráter de banalização desses eventos, que para eles se ocupariam mais de cifras e valores, em detrimento de uma programação mais criteriosa e que privilegie a relação autor-leitor. Não à toa, cresce no País a lista de eventos como a Festa Literária Internacional de Paraty (RJ), o Festival da Mantiqueira, em São Francisco Xavier (SP), e a Fliporto, em Porto de Galinhas (PE). Realizados em cidades turísticas, esses encontros permitem um contato mais intenso e até idealizado com o universo literário. Mesmo Alagoas teve direito a uma malograda edição da Flipenedo, em 2006.

É claro que a crise financeira internacional também está entre os obstáculos enfrentados aqui em Alagoas. A diretora da Edufal, professora Sheila Maluf, ressalta a importância da parceria com empresas e instituições públicas e privadas nesse panorama. "A crise nos atingiu sim durante nossos preparativos, mas conseguimos manter a expansão do evento, graças à relação de respeito e credibilidade estabelecida com nossos patrocinadores, parceiros e expositores, que nos acompanham desde as edições passadas".

Porém, mesmo com a expectativa de movimentar algo em torno de R$ 2 milhões em livros comercializados, nota-se a ausência das grandes editoras comerciais do País com estandes próprios, o que poderia incrementar as cifras e aumentar ainda mais o interesse por parte dos leitores mais vorazes, para não dizer mais criteriosos. Realizada no início do mês, a VII Bienal do Livro de Pernambuco sofreu problema semelhante. Mas ainda que as dificuldades para se produzir um evento cultural em Alagoas sejam, digamos, conhecidas, a bienal aos poucos coloca o estado no mapa nacional dos eventos literários chancelados pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). Devagarzinho, até a página ser virada.

Leia também: Impressões da turma que está chegando