Laboratório de Aquicultura da Ufal é reinaugurado com novas pesquisas

A unidade contou com o apoio da Fapeal para reestruturar seu laboratório e construir pesquisas aplicáveis em Alagoas

15/03/2018 10h15 - Atualizado em 16/03/2018 às 13h09
Laqua, no Centro de Ciências Agrárias, foi reestruturado e tem novas pesquisas. Foto: Tárcila Cabral

Laqua, no Centro de Ciências Agrárias, foi reestruturado e tem novas pesquisas. Foto: Tárcila Cabral

Diana Monteiro - jornalista com Ascom Fapeal 

O Laboratório de Aquicultura (Laqua), instalado no Centro de Ciências Agrárias (Ceca), da Universidade Federal de Alagoas, ganhou um importante reforço para o dinamismo de pesquisas que realiza com peixes e camarões,  ao inaugurar recentemente a  ampliação do espaço. Foram investidos R$ 55 mil na estrutura física e em aquisição equipamentos, sendo R$ 25 mil oriundos de quatro projetos da Fundação de Amparo à Pesquisa em Alagoas (Fapeal) e R$ 30 mil fruto de um projeto do Programa para o SUS - PPSUS/CNPq/Fapeal. 

O Laqua) foi reinaugurado na última segunda-feira (12) com a presença do diretor-presidente e o diretor executivo de CT&I da Fapeal, Fábio Guedes e João Vicente Lima, respectivamente. O laboratório, inaugurado em 2014, é o primeiro do Estado voltado também à produção de peixes marinhos e está conectado com a realidade local. O Laqua da Ufal também foi criado com a finalidade de formar mão de obra qualificada para o desenvolvimento econômico alagoano. 

“Com a ampliação, agora o Laqua está praticamente consolidado e passa  a agregar em sua estrutura física um novo Laboratório de Limnologia e três salas de pesquisas, ampliando-se o primeiro andar .Também terá na estrutura, já em início de construção, uma nova área de Aquaponia. Os novos espaços terão capacidade para fazer 24 análises em parâmetros limnológicos, poluentes e enzimas de estresse, além de salas para receber pesquisadores”, frisou o professor Emerson Soares, um dos coordenadores do Laboratório.

O professor explica que colaborou com pesquisas no laboratório a partir de demandas de políticas públicas. Ele acompanhou estudos em uma iniciativa do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), três versões do Programa Primeiros Projetos (PPP) e uma chamada para estruturação do espaço.

A proposta do PPSUS, que é a mais recente, busca compreender os efeitos de poluentes, agrotóxicos ou pesticidas na comunidade aquática e os reflexos disto no organismo humano. O laboratório investigou os reais danos destas substâncias, utilizando dois larvicidas com funções de extermínio ao mosquito da dengue, mas que geravam incertezas quanto ao seu potencial de contaminação. O estudo procurava identificar como este produto se acumulava na água, utilizando-se de sua presença nos peixes como um indicador eficiente.

De acordo com o professor, os resultados iniciais apontaram que o larvicida causava danos ao tecido hepático e cerebral do organismo aquático, demonstrando sua pertinência prática em relação à saúde da comunidade local. A parceria com o PPSUS direcionou R$ 40 mil à iniciativa e proporcionou estudar como as substâncias podem afetar os tecidos, além da observação de enzimas de estresse e efeitos fisiológicos no animal. O trabalho gerou dois artigos científicos e duas dissertações de mestrado em andamento.

Neste contexto, o pesquisador Emerson Soares explica que algumas informações obtidas foram encaminhadas ao Ministério da Saúde, pois o órgão trabalha com o material. O propósito volta-se também à obtenção de cuidados no manuseio e à garantia de prevenção das comunidades, no caso de possíveis danos pelo consumo da água. Atualmente, a pesquisa já está sendo finalizada, com 80% do projeto concluído.

O presidente da Fapeal frisou que, somente no último triênio, a instituição ofertou 40 editais, onde a participação dos pesquisadores do Laqua foi relevante para a contribuição das pesquisas locais, mas que deve ser dada continuidade ao trabalho em todos os âmbitos.

“A pesquisa prova a sua eficiência e demonstra à sociedade a relevância de produzir conteúdos críticos, que interagem diretamente com o cidadão, com linhas que atinjam complexos da cultura alagoana”, ressaltou Fábio Guedes.

Atividades acadêmicas para ciência

Emerson reforça que a estrutura ampliada garantirá um maior dinamismo aos estudos em andamento nas diferentes áreas, como a de toxicologia aquática, reprodução, nutrição, microparasitoses e genética. Citou pesquisas em andamento com Ecotoxicologia; Ensaios Cometa e Micronúcleo de Peixes; Teste de Alimentações Alternativas para Peixes; Sistema de Bioflocos na Larvicultura de Tilápias; Impactos de Pesticidas em Peixes; e Microparasitas em Peixes.

As ações do Laqua envolvem os cursos de Zootecnia e Agroecologia do CECA e contam com a parceria do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB), da Ufal, Universidade do Porto (Portugal), representada pelo renomado pesquisador mundial na área Carlos Azevedo e Instituto Oceanogáfico de Vigo, na Espanha.  Mantém ainda parceria com a Universidade

Importância dos estudos

Sobre os inúmeros benefícios locais dos estudos realizados pelo Laqua, tanto na área social , como na econômica, o professor Emerson enfatiza que Alagoas é o Estado das Águas, mas, segundo ele, pouco aproveitado quanto ao cultivo, além de apresentar escasso conhecimento e estudos com a ictiofauna. E enfatiza:

“Por possuir uma das regiões mais impactadas em termos de poluentes aquáticos e contaminação aquática, o estudo da biota aquática é importante porque trará melhoria nos indicadores de qualidade do produto de origem aquática e nos indicadores de sanidade aquícola. Assim como colaborará na produção de organismos aquáticos de forma intensiva. O que significa também colaboração nas políticas de gestão pesqueira e aquícola, refletindo dessa forma, na geração de emprego para populações ribeirinhas por meio de políticas públicas mais objetivas e diretas”, afirmou.

Projetos do Ceca com a Fapeal

Em 2016, o Centro de Ciências Agrárias da Ufal aprovou 13 projetos no edital de Apoio à Pesquisa dos Programas de Pós-Graduação (PPG) da Fapeal. Uma destas iniciativas foi o estudo do professor Emerson Soares, onde o acadêmico recorda que obteve o aporte de R$22 mil para investigar o desenvolvimento embrionário de peixes e sua correlação de impactos dos agrotóxicos e pesticidas na má formação destes embriões.

Atualmente, o professor Emerson relata que está produzindo um novo projeto organizando uma expedição à região do baixo São Francisco, com a duração de uma semana. A viagem agregará de 15 a 20 pesquisadores brasileiros e portugueses, de áreas diversas, com o intuito de catalogação e produção de um documentário científico dos acontecimentos deste local, que é o mais afetado com os impactos das hidrelétricas e da transposição. Serão apontados problemas enfrentados na comunidade aquática, ribeirinha, a questão ecológica e ambiental, custeados com o apoio da Fapeal e do Comitê de Bacias Hidrográficas do São Francisco (CBHSF).

Os estudos consistirão na análise de água, poluição, espécies, cadeia alimentar e das relações socioeconômica e socioecológica da população ribeirinha.

Equipe 

Integram também a equipe do Laboratório de Aquicultura da Ufal os seguintes pesquisadores: Elton Santos, Themis Silva, Misleni Ricarte, Jerusa Maria,  Renato Nascimento,  quatro mestrandos e cerca de oito bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) da Ufal.