Projeto do Profmat destaca Branquinha em olimpíada de matemática

As seis menções honrosas e duas medalhas de bronze são fruto de um projeto para produzir estudantes vencedores na competição nacional

27/04/2017 13h51 - Atualizado em 02/05/2017 às 12h33
Cícero Rufino, idealizador do projeto para formar vencedores

Cícero Rufino, idealizador do projeto para formar vencedores

Diana Monteiro - jornalista

Figurar no cenário da ciência Matemática com destaque e sair premiado reforça o que tanto se diz e se sabe: a educação é o caminho para a transformação social. Foi isso que comprovou o município de Branquinha, localizado na zona da mata alagoana, a 64 km de Maceió, na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) 2016, ao obter seis menções honrosas e duas medalhas de bronze na disputada competição promovida pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Mas isso não seria possível se não fosse a dedicação e o empenho do professor Cícero Rufino de Goes ao tomar a decisão de lançar, em 2015, um projeto para promover o aprendizado da matemática vislumbrando mudanças na realidade social do município.

Com o título Desenvolvendo e aplicando a matemática: um projeto voltado para produzir vencedores na Obmep e elevar os indicadores sociais do município de Branquinha, a iniciativa, apoiada pela prefeitura local, mobilizou 14 escolas municipais e capacitação a todos os professores da disciplina e aos 1,8 mil estudantes da rede. Cícero enfatiza que os primeiros resultados começaram a ser obtidos já em 2015, quando os participantes ganharam suas primeiras menções honrosas. O que trouxe reflexo para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), alcançando 4,8, nas turmas dos anos iniciais, contra 2,2 em 2005; já as séries dos anos finais subiram o índice de 2,1 em 2005, para 3,6.

Vale destacar os inúmeros desafios enfrentados assim como o tamanho deles para a obtenção do bom resultado que tanto tem orgulhado a população branquinhense e elevado a autoestima da comunidade escolar. Branquinha pertence a um estado que ainda detém o maior índice de analfabetismo no país; no Censo de 2010, dentre os 102 municípios alagoanos, ficou na 96 ª colocação no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), tendo também se destacado  negativamente, no índice nacional. A cidade foi devastada há sete anos pela enchente do rio Mundaú e reconstruída em outro local interferindo e mudando a dinâmica de vida da já carente população.

O projeto para fazer campeões de Branquinha na Obmep é tema do recente trabalho do professor Cícero Rufino, natural da cidade, no Mestrado Profissional em Matemática (Profmat), em desenvolvimento no Instituto de Matemática (IM/Ufal).  Para ele, a premiação na Olimpíada tem um significado muito especial por considerá-la também a realização de um sonho, almejado desde o tempo em que foi estudante de uma escola do município e participante da competição.

“O sonho de 2005, quando participei da competição, concretiza-se agora, como professor e o reflexo positivo que traz para a comunidade escolar e para a realidade social e educacional do município, considero a maior vitória. A vontade para alcançar êxito nunca esmoreceu por eu saber que não faltava potencial e sim, preparação. O projeto implantado teve esse foco, deu bom resultado e terá continuidade. Desmistificou ser a matemática ‘o bicho-papão’ ou a disciplina chata”, frisa.

Ele enfatiza que a experiência em Branquinha tem despertado o interesse da comunidade escolar de outros municípios alagoanos e aproveita para destacar o apoio recebido pelo poder público municipal e de todos os professores da disciplina para a efetivação das atividades e consolidação do projeto. Como reforço ao objetivo e foco do trabalho, Cícero Rufino criou a Olimpíada Branquinhense de Matemática destinada a alunos do 1º ao 9º ano, uma atividade preparatória para a tão sonhada e disputada Obmep.

A premiação à equipe será em meados de junho, como normalmente ocorre, em uma solenidade conduzida pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual da Educação com participação de representantes da Ufal e de autoridades diversas. Os alunos medalhistas de bronze Rebeca Barros e Melquíades Marques, também foram agraciados com bolsa para participação no Programa de Iniciação Científica (PIC) da Ufal, que dá direito a estudar no Instituto de Matemática, com aulas, quinzenalmente, aos sábados. O PIC é um programa da Capes, Impa e Sociedade Brasileira de Matemática.

Em todos os estados o mestrado profissional que Cícero Rufino participou, o Profmat, tem a coordenação da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Com participação de mais de 70 universidades e institutos é considerado o maior programa da área no Brasil. Classificado com nota máxima da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o mestrado já formou desde 2011 mais de três mil mestres.

 “A Ufal mudou a minha vida”

Natural de Branquinha, onde estudou, vive e trabalha, Cícero Rufino é graduado em Matemática pelo Programa de Educação a Distância (EaD), do polo de São José da Laje. A aprovação para o mestrado profissional ocorreu antes mesmo da conclusão da graduação, em 2014, e ele destaca o quanto a Universidade Federal de Alagoas foi determinante em toda sua formação profissional e trajetória de vida.

“Sempre gostei e me identifiquei com a disciplina Matemática, mas ingressar na Ufal para a graduação, seguida da pós-graduação, foi decisivo para a minha atuação profissional e crescimento. A Ufal mudou a minha vida e aproveito para agradecer o estímulo e apoio sempre recebidos dos professores do Instituto de Matemática, Isadora Maria e Viviane, e do meu orientador, Amauri Barros, em todo processo de minha formação, que resultou na experiência exitosa implantada visando aprendizado em consonância com desenvolvimento social em Branquinha”, lembrou Cícero. 

Sobre a dinâmica das atividades do projeto, ele informou que transcorrem em sua rotina com aulas para a próxima competição em três escolas de Ensino Fundamental: Escola Zumbi dos Palmares; Escola Demócrito José; e Escola Santo Antônio da Boa Vista. Uma vez por semana os alunos inscritos para a Obmep 2017 participam do curso preparatório realizado no horário contrário ao do período regular de aulas. “A olimpíada é dotada de duas fases: na primeira todos os alunos participam de uma prova seletiva composta por 20 questões. A segunda já é a preparação dos alunos para competição nacional”, enfatiza.

A Olimpíada Brasileira das Escolas Públicas conta anualmente com a participação de cerca de 20 milhões de estudantes, envolvendo mais de 47 mil escolas, sendo considerada uma das maiores competições do mundo na área.

Artigo na Folha online   

O projeto implantado por Cícero Rufino estimulou a publicação de um artigo na versão online da Folha de São Paulo, de autoria do diretor do Impa, Marcelo Viana,  convidado para participar da banca da defesa da dissertação, assim como o professor Isnaldo Barbosa, do IM.

Em um dos parágrafos do artigo, publicado no dia 7 de abril, Viana destaca:  “Cícero é um desses professores que fazem a diferença: vêm à mente Antônio Amaral (Cocal dos Alves - Piauí), Claudiene dos Santos (Coité do Nóia - AL), Geraldo Amintas (Dores do Turvo - MG), Luiz Felipe (Rio de Janeiro - RJ) e muitos outros. Frente a tantos teóricos da educação, que nem sequer entram em sala de aula, na sua dissertação ele nos brinda com um diagnóstico lúcido, em linguagem simples, com a legitimidade de quem sabe (e faz) o que diz”.

Confira o artigo completo aqui.