Núcleo do Campus do Sertão desenvolve pesquisa arqueológica na Paraíba

Pesquisa envolve estudo de esqueletos provenientes de cemitérios indígenas dos povos Cariri

07/04/2017 17h11 - Atualizado em 10/04/2017 às 13h48

Diana Monteiro - jornalista

 

Indícios que apontam a existência de sítios arqueológicos com restos ósseos humanos na cidade de Pocinhos, na Paraíba, motivaram a parceria firmada entre o Núcleo de Pesquisa e Estudos Arqueológicos e Históricos (NUPEAH), do Campus do Sertão da Ufal, com o Instituto Memorial da Borborema, daquele estado. A parceria visa proporcionar pesquisas arqueológicas e envolve o estudo de esqueletos provenientes de cemitérios indígenas, provavelmente, dos povos Cariri, que ocuparam desde a Pré-História a região do Planalto da Borborema. Uma das pesquisas em desenvolvimento é a que integra parte do doutorado do professor e arqueólogo Flávio Augusto de Aguiar Moraes, na Universidade de Coimbra (Portugal).

Docente do curso de História e coordenador do Núcleo do Campus do Sertão, Flávio Moraes informa que o doutorado tem como foco o estudo de esqueletos provenientes de cemitérios indígenas. E destaca: “Nas escavações do sítio arqueológico de Pocinhos, foi identificado um cemitério, provavelmente Cariri, com enterramento coletivo, com indivíduos de várias faixas etárias, desde recém-nascidos a indivíduos adultos. Associado a esse enterramento, foram encontrados objetos pessoais utilizados pelos indígenas, tais como artefatos líticos, entre eles, contas de colares e ossos de aves, a exemplo do bico de periquito”, enfatiza o arqueólogo.

A pesquisa, que objetiva fazer uma caracterização biológica dos povos Cariri, encontra-se na fase de análise científica do material coletado e conta também com a parceria do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da Unidade Estadual da Paraíba (UEPB). Flávio adianta que no próximo mês de maio, concomitante à fase de análise em laboratório, haverá escavações no sítio arqueológico Pedra da Tesoura, localizado no município paraibano Boqueirão. E acrescenta: “Em meados de junho está prevista a entrega do relatório ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para subsequente aprovação”, enfatiza o arqueólogo. Ele diz ainda que, para complementação do estudo em curso, algumas amostras possivelmente seguirão para datação na Espanha.

Segundo o pesquisador, as informações existentes sobre os povos Cariris são advindas de escritos dos cronistas que estiveram na região no período colonial. “As informações são muito restritivas no que se refere a algumas características, como a condição de saúde desses grupos, do que se alimentavam, se havia divisão entre os sexos nas atividades desenvolvidas, se haviam privilégios alimentares que estariam relacionado à condição de status dentro do grupo”, reforça.

A pós-graduação do docente da Ufal integra o Programa de Doutoramento em Antropologia Biológica da instituição portuguesa e tem conclusão prevista para 2018. Participam da equipe de campo estudantes do curso de História da Universidade Estadual da Paraíba e um aluno do Mestrado em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A cada dois meses, Flávio Aguiar disse vir ao Brasil para desenvolver pesquisas de campo e coleta de dados. São parceiros ainda do estudo a Universidade de Coimbra e a Prefeitura Municipal de Pocinhos, esta tem proporcionado o apoio logístico às atividades.

 

Núcleo do Sertão

O Núcleo de Pesquisa e Estudos Arqueológicos e Históricos (NUPEAH) foi criado no ano de 2012 e surgiu da necessidade de se ter um espaço no Sertão de Alagoas que permitisse, inicialmente, o diálogo e aproximação entre o saber arqueológico e outras áreas do conhecimento para atender uma demanda na região do semiárido. Mas as ações na área têm extrapolado os limites geográficos de Alagoas.

A parceria para a realização da importante pesquisa marca a abrangência e aprofundamento dos estudos na área sob a responsabilidade do NUPEAH, cujo setor instalado no Campus do Sertão tem também como um dos objetivos fornecer subsídios para que os estudantes do curso de História possam desenvolver seus trabalhos de conclusão de curso com a temática da arqueologia.

Instalado na Unidade Educacional Delmiro Gouveia, sede do Campus do Sertão, o Núcleo tem como vice-coordenador o professor Aruã Silva e está cadastrado no CNPq como grupo de pesquisa. Além de projetos de pesquisas, realiza atividades voltadas à Arqueologia e Educação Patrimonial e Licenciamento Arqueológico.