Universidade de portas abertas para a periferia é a proposta do debate organizado pelo ICS e Focus Consultoria

"A Universidade sempre serviu às oligarquias. Periferia aqui era objeto de estudo", questionou um palestrante

11/05/2016 17h54 - Atualizado em 22/11/2021 às 09h05
Professor Rodrigues, do ICS, organizador e um dos debatedores

Professor Rodrigues, do ICS, organizador e um dos debatedores

Lenilda Luna - jornalista

Na tarde desta terça-feira (11), no auditório da Biblioteca Central, foi realizada a primeira mesa de debate com o tema "Universidade Encontra a Periferia". Os palestrantes convidados foram: Pedro Rocha, conhecido como Pedro Dú Reino, cantor de Rap Cristão; Juliano Mendes, conhecido como Julimei, que integra o movimento Rap na Missão; Ana Carla Moraes, do Grupo Batuquiá e professora de Dança; e o Pastor Wellington Santos, da Igreja Batista do Pinheiro. Os debatedores foram o professor Fernando Rodrigues, do Instituto de Ciências Sociais, co-líder do Grupo de Pesquisa Periferias, Ambiente, Afetos e Economia das Simbolizações (GruPAAES); e Ari Consciência, ativista negro e fundador do movimento Hip-Hop em Alagoas.

Ao abrir o debate, o professor Rodrigues destacou a importância de ter na mesa uma diversidade de pontos de vista nos aspectos culturais, políticos e religiosos. "Temos que aproximar da Universidade esses diversos movimentos que chamamos genericamente de cultura da periferia", destacou o professor. O ativista negro, Ari Consciência, parabenizou a iniciativa e ressaltou que é preciso superar o estigma de que os moradores de bairros marginalizados pela pobreza são perigosas. "Tem traficantes e consumidores de drogas sim, como nos bairros da área nobre também tem. Mas temos na periferia muitos intelectuais produzindo expressões culturais e conhecimento que precisam ser valorizados", disse o ativista.

Os dois integrantes do movimento Rap na Missão, Pedro e Julimei, contaram como o Rap os ajudou a superar a dependência em drogas e a encontrar uma nova forma de conduzir a vida na periferia. "Nosso movimento nasceu com o intuito de não mais aceitar perder as vidas dos jovens da comunidade para o tráfico, as drogas e a violência. Fomos resgatados por pessoas que nos estenderam a mão e ofereceram cultura e oportunidades de falar sobre nossas vidas. Agora queremos levar o evangelho para as comunidades, onde o único braço do Estado que entra é a repressão policial", denunciou Pedro. "Eu fui resgatado das drogas pelo Hip-Hop e hoje estou deixando o meu legado. Não basta ser artista, é preciso ser ativista", completou Julimei.

Ana Carla relatou a infância na vila Brejal e como foi percebendo como os movimentos sociais contribuíram para sua formação e para fortalecer o sentido de pertencimento à um grupo étnico-social. "Desde pequena eu me sentia desconfortável com tanta pobreza. Na adolescência, tomei consciência também do peso do racismo. Mas encontrei no projeto Erê um apoio para compreender essas questões sociais e para fazer amigos que me ajudaram a fortalecer a identidade negra, a cultura de resistência, o empoderamento das mulheres negras da periferia, que são triplamente estigmatizadas", contou a professora.

O pastor Wellington, da Igreja Batista do Pinheiro, começou o discurso parabenizando a Ufal por estar mudando sua relação com a sociedade alagoana. "Finalmente a universidade abre as portas para as classes desprivilegiadas. A Ufal sempre serviu às oligarquias alagoanas, priorizando pesquisas voltadas para a produção sucroalcooleira. A periferia aqui era só objeto de estudo. Os pesquisadores iam às favelas, faziam observações com aqueles seres de outra realidade, e depois voltavam para fazer suas anotações. É muita produção intelectual que não serve nem para provocar uma reflexão. Agora a periferia é convidada a vir no campus dialogar. Tem que ser assim, a universidade precisa se relacionar com a vida!", conclamou o pastor. 

O debate continua nessa quinta-feira, 12, a partir de 14 h, também no auditório da Biblioteca Central, com os convidados: Rogério Dias, do Quintal Cultural, Sirlene Gomes, do CEPA-Quilombos, Geysson Santos, do Coletivo Companhia Hip-Hop e Ari Consciência, ativista negro.