Estudos mostram resultados importantes sobre função de proteína em infecções pulmonares e crises epilépticas

Pesquisadores identificaram que atuação do SGLT1 pode ajudar no combate à pneumonia em diabéticos

09/05/2016 18h07 - Atualizado em 04/08/2016 às 16h08
Esquema - SGLT1

Esquema - SGLT1

Redação Ascom

Pesquisas realizadas no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Alagoas têm apresentado importantes resultados sobre a funcionalidade da proteína SGLT1, um cotransportador de sódio, água e glicose presente em diversas partes do corpo humano, a exemplo do pulmão, cérebro, rins e glândulas salivares.

Pesquisadores identificaram a funcionalidade dessa proteína que pode ajudar a combater a pneumonia em diabéticos. O resultado do estudo foi publicado na revista Scientific Reports, do renomado grupo científico Nature, que tem conceito Qualis A1 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Confira o artigo neste link.

Um dos responsáveis pela pesquisa, Tales Oliveira, explica que a proteína foi identificada nos alvéolos pulmonares desde a década de 90, porém o seu papel funcional era desconhecido. “Partindo de revisões da literatura médica, investigamos se o SGLT1 estaria diminuído no pulmão do diabético e, por esse motivo, haveria maior risco de ter pneumonias. Por outro lado, também avaliamos como aumentar a quantidade dessa proteína, promovendo a diminuição de glicose no muco e, consequentemente, reduzir o risco de infecções pulmonares”, esclarece.

A preocupação científica com a pneumonia em diabéticos tem uma justificativa relevante. Segundo o pesquisador, além do risco de doenças oculares e cardiovasculares, pessoas que não fazem o controle da glicemia têm risco maior de desenvolver infecções no pulmão, isso porque a hiperglicemia crônica leva a um quadro inflamatório sistêmico que dificulta a produção de células de defesa.

“Pesquisas recentes descobriram que o muco do pulmão de indivíduos diabéticos tem um alto teor de glicose, fato que estaria relacionado ao aumento de infecções pulmonares, pois essa substância serve como meio de cultura para microorganismos se proliferarem, principalmente, algumas cepas de bactérias, tais como os Staphylococcus aureus resistentes à Meticilina e as Pseudomonas aeruginosas”, explica o pesquisador.

O estudo realizado na Ufal fez experimentos em cobaias e servirá como base para novos trabalhos, uma vez que são necessários mais estudos sobre o tema para que se chegue à fase de testes em humanos. “A modulação do SGLT1 no pulmão por meio de fármacos poderá diminuir sobremaneira o risco de indivíduos diabéticos terem pneumonias. É um alvo terapêutico importante, capaz de reduzir a proliferação bacteriana e, consequentemente, o risco de infecções respiratórias”, defende Oliveira.

Realizado em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Além do artigo publicado na revista Scientific Reports, o estudo deu origem à tese de mestrado de Tales Oliveira, defendida em 2014, no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Ufal, sob orientação do professor Robinson Sabino-Silva que, atualmente, pertence ao quadro de docentes da UFU. A pesquisa também já recebeu alguns prêmios em Congressos Nacionais e Internacionais, inclusive foi indicada ao tradicional prêmio Álvaro Ozório de Almeida, o mais notório da Sociedade Brasileira de Fisiologia.

Mais pesquisa sobre SGLT1

O estudante de doutorado do PPGCS da Ufal, Igor Santana, também tem como objeto de estudo a SGLT1. Desde o mestrado, sob orientação dos docentes Olagide Wagner de Castro (Ufal) e Robinson Sabino-Silva (UFU), ele avalia o papel funcional da proteína em crises epilépticas.

Ao longo da investigação, Santana explica que foram feitos testes em cobaias de laboratório com a administração de substâncias que bloqueavam a proteína SGLT1 no cérebro durante as crises. “Constatamos que, com o bloqueio da SGLT1, houve mais morte de neurônios, evidenciando o papel relevante da proteína durante as crises de epilepsia”, destaca.

O pesquisador explica que os testes realizados tiveram como parâmetro a epilepsia do lobo temporal e preveem a modulação da proteína para criação de fármacos que possam tratar essa alteração no funcionamento do cérebro. “Mesmo sendo a mais comum na população, 30% a 40% das pessoas que sofrem com esse problema apresentam resistência aos fármacos padrões. A modulação da SGLT1 representa uma nova alternativa terapêutica”, defende.

Igor Santana, assim como outros pesquisadores da Ufal, atuou como colaborador na pesquisa que identificou a atuação do SGLT1 no combate à pneumonia em diabéticos, sendo coautor do artigo publicado na revista Scientific Reports.