Universidade do Porto recebe pesquisadores que realizam estudos com peixes alagoanos

Pesquisa com carapeba e curimatã-pacú serão apresentadas na instituição portuguesa durante palestra e estágio

27/10/2016 12h01 - Atualizado em 01/11/2016 às 15h56
Professores  Carlos Azevedo e Themis em análises de microparasitas em peixes

Professores Carlos Azevedo e Themis em análises de microparasitas em peixes

Diana Monteiro - jornalista

A parceria da Universidade Federal de Alagoas com a Universidade do Porto (Portugal) para a realização de pesquisas com espécies aquáticas potenciais do Estado ganha mais um importante salto no intercâmbio firmado entre as duas instituições. O professor Emerson Soares, do Laboratório de Aquicultura (Laqua/Ceca), foi convidado para apresentar os estudos científicos em andamento com foco nos cultivos multitróficos e toxicidades de peixes da espécie Eugerres brasilianus, a conhecida carapeba e curimatã-pacú, cientificamente denominada de Prochilodus argenteus.

A palestra do professor Emerson Soares será no dia 9 de novembro, na instituição lusitana que já mantém parceria, desde 2014, com o Laqua para o desenvolvimento do Projeto Microparasitas de Peixes, com resultados publicados em revistas científicas. O mais recente artigo com a espécie teve publicação na revista chilena Journal Aquatic Research. Em junho, outros dois artigos sobre microparasitas foram publicados na revista europeia 50º Meeting of Parasitology.

“Os grupos de trabalho que envolvem pesquisadores da Universidade do Porto, como o renomado pesquisador Carlos Azevedo, têm intenção de eventuais parcerias e reforçou o convite para realizar estágio no Laboratório de Biologia Celular da Universidade do Porto e, apresentar trabalhos em desenvolvimento no Laboratório de Aquicultura na Ufal”, frisou Emerson.

Ao falar sobre o estudo desenvolvido com a carapeba, o pesquisador destacou que no Brasil existem poucos grupos que realizam pesquisa com a espécie e o da Universidade Federal de Alagoas é um dos mais avançados na área de microparasita e reprodução. A carapeba, que tem boa qualidade proteica e índice baixo de gordura, é um dos peixes mais apreciados nos mercados do Nordeste e figura entre as seis espécies mais capturadas no litoral sul e Foz do São Francisco.

Ciclo reprodutivo

O pesquisador Emerson Soares informa que o ciclo reprodutivo da carapeba tem relação com o clima e com a qualidade do ecossistema. Na falta ou escassez de chuva, a reprodução da espécie é prejudicada. A carapeba frequenta o mar, o estuário e a água doce e, devido à essa interação, o cuidado com a poluição em qualquer destes ambientes influenciam na sua reprodução, principalmente nas áreas de mangue.

“A espécie entra na água doce para se proteger e viver parte de seu ciclo de vida. Vai ao estuário para se alimentar e para a reprodução. [O peixe] frequenta a área costeira marinha, também, para se alimentar e reproduzir, e retorna à água doce para viver o seu resto de ciclo de vida. Por isso, é chamado de peixe diádromo, por viver nestes ambientes”, explica Emerson.

O curimatã-pacú é uma espécie de água doce e há no Laqua o desenvolvimento de um projeto em sistema de policultivo com o camarão marinho adaptado à água doce com a aquaponia, que consiste no cultivo de um sistema hidropônico de hortaliças ligado ao cultivo das duas espécies. “Isso proporcionará que o sistema, com o reuso de água, seja tratado por reações de fenton, que é uma reação eletroquímica”, enfatizou o professor.

As pesquisas com os peixes carapeba e curimã-pacú têm a participação também de pesquisadores do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) e do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) para as específicas áreas de estudo, que são: toxidade; genotixidade e microparasitas; reações de fenton; aquaponia; e neurotoxicologia. Além de Emerson Soares integram a equipe Elton Santos, Sônia Salgueiro, Themis Silva, Carmen Zanta, Josealdo Tonholo, Adriana Ximenes e o pesquisador da Universidade do Porto, Carlos Azevedo.

Emerson adiantou que o projeto que trata sobre toxidade de peixes, aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), conta com a participação dos mestrandos em Zootecnia Fábio Silva e Gabriela Santos, além da pós-doutora Jacqueline Silva, e da professora Fabiane Caxico, ambas do IQB. O projeto está sob a coordenação de Elton Santos e Emerson Soares e co-orientação de Sônia Salgueiro, também do IQB.

Alavancar pesquisas

Alagoas detém 1, 47% da produção nacional de pescado, 35 mil pessoas estão envolvidas na atividade e a aquicultura de peixes de água doce é desenvolvida atualmente por 300 produtores locais. Mesmo com vocação e potencial para o franco crescimento e consolidação de tão importante setor produtivo, o Estado continua incipiente para a produção visando o fortalecimento da atividade, desenvolvimento econômico e geração de emprego e renda. 

O pontapé inicial para alavancar a atividade pesqueira em Alagoas foi dado pelo Centro de Ciências Agrárias (Ceca), da Universidade Federal de Alagoas com a inauguração do Laboratório de Aquicultura, que consiste em mais um espaço de aprendizado conectado com as ações de ensino, pesquisa e extensão, visando a formação profissional qualificada. O laboratório é o primeiro do Estado e um dos poucos da região Nordeste para a produção também de peixes marinhos.