Pesquisa premiada busca alternativa para o tratamento da Epilepsia do Lobo Temporal

Estudo da aluna Mariah Morais e colaboradores conquistou primeiro lugar em evento realizado pela Federação das Sociedades de Biologia Experimental

10/12/2015 17h27 - Atualizado em 16/12/2015 às 20h04
Estudo da aluna Mariah Morais [casaco branco] e colaboradores conquistou primeiro lugar em evento realizado pela Federação das Sociedades de Biologia Experimental

Estudo da aluna Mariah Morais [casaco branco] e colaboradores conquistou primeiro lugar em evento realizado pela Federação das Sociedades de Biologia Experimental

Deriky Pereira – estudante de Jornalismo

Você já ouviu falar em Epilepsia do Lobo Temporal (ELT)? Segundo pesquisadores, esta é a forma mais comum da síndrome nos adultos e possui variadas manifestações clínicas. Porém, um estudo desenvolvido no Laboratório de Neurofarmacologia e Fisiologia Integrativa (LNFI) do Instituto de Ciências Biológicas (ICBS) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) busca nova alternativa terapêutica para o tratamento da enfermidade.

A pesquisa desenvolvida pela aluna Mariah Morais e orientado pelo professor Olagide Castro teve experimentos realizados na Ufal e em parceria com as faculdades de Medicina da USP (FMRP-USP) e de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto (FCFRP-USP) e utilizou a Galectina-1 – lectina associada à proteção contra danos neuroinflamatórios – para testar seu papel na proteção do cérebro de animais portadores da ELT. O uso da lectina confirmou essas atividades neuroprotetoras no modelo da síndrome.

“Fizemos uma contagem dos neurônios em processo de degeneração no Hipocampo [que é uma região que está relacionada com a gênese, manutenção e disseminação das crises] e avaliamos, também, regiões extra-hipocampais, mas que estão relacionadas com a circuitaria epileptogênica. Vimos que os animais que foram pré-tratados com a Galectina-1 tiveram diminuição dos neurônios em processos degenerativos. Dessa forma, confirmamos a nossa ideia de que essa lectina possui atividades neuroprotetoras no modelo de ELT”, explica Mariah.

A ELT é uma enfermidade que atinge estruturas como a da amígdala e o hipocampo, região responsável pelo armazenamento de memória a curto e longo prazos. “Como existem regiões extra-hipocampais que fazem sinapse com o hipocampo (para armazenamento de memória, por exemplo), nós analisamos histologicamente estas regiões além de analisar o hipocampo para avaliar a atividade neuroprotetora (ou não) da Galectina-1”, diz a estudante.

Para a análise foram utilizados animais e o trabalho foi dividido em três momentos: no primeiro, eles forma perfundidos (para que os cérebros fossem coletados e processados) 24 horas depois da administração intra-hipocampal de pilocarpina. A perfusão foi feita de forma aguda e o animal apresentou Status Epilepticus, mas não desenvolveu CREs ou Crises Recorrentes Espontâneas.

No segundo momento, outro grupo de animais foi perfundido 15 dias após a administração de pilocarpina. Nessa etapa, o ato ocorreu assim que as CREs foram instaladas. Já na terceira e última etapa, um grupo de animais foi perfundido 30 dias após a administração da pilocarpina. Neste momento, os animais passaram pelo processo somente depois de terem sido instaladas e observadas as Crises Recorrentes Espontâneas.

A pesquisadora, no entanto, reforça que foram necessários dois anos e meio de pesquisa para obter esses resultados, mas ainda há muito o que ser feito, visto que o modelo de trabalho não é muito prático e envolve longo protocolo.“Mesmo assim, a pesquisa tem muito mais dados (histológicos e comportamentais) referentes aos grupos 24h, 15 dias e 30 dias e estamos em andamento para a publicação dos nossos resultados em um periódico”, conclui Mariah Morais.

Pesquisa premiada

A partir de tal descoberta, os pesquisadores decidiram submeter o estudo à 30ª Reunião Anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) e, junto a outros mil trabalhos inscritos, o trabalho ficou entre os três finalistas da categoria de Iniciação Científica. “Foi aí que fizemos uma apresentação oral pública de 10 minutos para uma banca examinadora, que selecionaria o primeiro, segundo e terceiro lugares. Após arguição, nós ficamos com o primeiro lugar”, vibra Mariah, que saiu de lá com o Prêmio Jovem Investigador Michel Jamra/Amgem que é oferecido pela Sociedade Brasileira de Iniciação Científica (SBIC).

Esta não é a primeira participação da estudante em eventos externos, mas é a sua primeira premiação. Ela revelou ter sentido um misto de nervosismo e alívio com a divulgação do resultado, mas que, no final das contas, tudo foi incrível. “Com a vitória, pude perceber que apesar de algumas dificuldades em nosso percurso, temos a capacidade de trazer coisas boas para nossa instituição. Sempre tem uma série de coisas que nos fazem pensar em desistir, mas a força de vontade sempre ganha e, no final das contas, as coisas dão certo”, salienta Mariah, agradecendo ao seu orientador, Olagide e a companheira de laboratório e amiga, Maísa Araújo, 'que nunca deixou que ninguém do LNFI se abalasse com as dificuldades'”.

Sobre a FeSBE

Criada no ano de 1986, a Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) tem por objetivos promover e difundir a atividade científica das áreas do conhecimento correspondentes às Sociedades federadas, utilizando como veículo principal a sua Reunião Científica Anual e, assim, fazer-se representar junto às autoridades governamentais e à sociedade em geral na defesa dos temas relevantes para o desenvolvimento da ciência.

Ainda de acordo com a estudante, na Reunião foi possível encontrar uma incrível variedade de trabalhos, discutir sobre novas metodologias e, assim, aprender com o trabalho de outros estudantes que participam do evento, algo que serve para abrir a mente dos pesquisadores de forma geral.

“Agora, de modo mais específico, a apresentação oral para concorrer ao prêmio é só uma prévia de toda uma carreira firmada na pesquisa. Na plateia, estiveram pessoas que eu não conhecia, mas que têm um currículo brilhante – não apenas pesquisadores, mas alunos que assistiam e compartilharam ideias, tirando dúvidas sobre a ELT e meu trabalho). Isso me deu a sensação de que, de fato, é o começo de muita coisa que ainda podemos fazer”, concluiu Mariah Morais.