De Igaci para a Nasa

Conheça a história do estudante alagoano que ajudou a processar mais de 180 mil imagens feitas pelo Hubble

14/12/2015 18h03 - Atualizado em 15/12/2015 às 10h01
Walysson Vital ao lado de uma miniatura do Telescópio Hubble

Walysson Vital ao lado de uma miniatura do Telescópio Hubble

Pedro Barros e Wende Evangelho – estudantes de Jornalismo

Você já sonhou em conhecer o espaço? O Ciência sem Fronteiras (CsF) tem levado estudantes brasileiros para os quatro cantos do planeta, mas nunca levou para fora dele. Talvez, quem chegou mais perto disso foi o alagoano Walysson Vital. Natural de Igaci, Agreste do Estado, o estudante passou no vestibular para Ciência da Computação, no Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Aos 20 anos de idade e no 5° período do curso, o aluno se deparou com a oportunidade de realizar um sonho de infância: desvendar os mistérios do universo. Num instituto de pesquisa ligado à Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, Walysson colaborou com a finalização das imagens digitais fornecidas pelo telescópio espacial Hubble, entre elas as das galáxias mais remotas já vistas por olhos humanos.

A astronomia era uma antiga paixão de Wallyson. "Antes de ingressar na Ufal, cursei o Técnico em Informática, no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em Palmeira dos Índios. Desde pequeno eu quis estudar os mistérios do Universo, mas como não existe um curso de Astronomia aqui no Estado e eu já tinha um background na área de Computação, decidi seguir nessa área. Ainda assim, sempre pensei em fazer algo relacionado à Astronomia", contou.

Durante o processo de seleção do programa para a Universidade Católica da América (UCA), em Washington, o estudante entrou em contato com a astrônoma brasileira e também professora daquela instituição, Duília de Mello, conhecida como a "Mulher das Estrelas", por seu trabalho de divulgação da ciência. "Eu já tinha lido notícias sobre intercambistas do CsF na Universidade Católica da América, que tinham estagiado na Nasa durante o verão de 2012. Então, já no finalzinho do processo de seleção, esperando apenas o aceite, entrei em contato com ela [a professora Duília], demonstrando interesse em estudar lá", contou.

Walysson se matriculou em duas disciplinas da pesquisadora. "Fui aluno de Duília nas disciplinas Introdução à Astronomia, considerada pelos alunos a melhor matéria da universidade, e de Pesquisa Independente, durante dois semestres".

Graças à disciplina de Introdução à Astronomia, o estudante conheceu Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na Lua. "Participei de um projeto em que tivemos de fazer visitas ao Museu Aeroespacial Nacional do Smithsonian e comentar sobre suas exposições. Buzz estava no museu para uma sessão de autógrafos de seu livro Mission to Mars, que adquiri", contou.

Como se não bastasse, a UCA é parceira do Space Telescope Science Institute [Instituto Científico do Telescópio Espacial], que presta serviços à Nasa e realiza pesquisas com o telescópio espacial Hubble. O centro de pesquisas fica na cidade de Baltmore, no Estado de Maryland, onde Walysson realizou um programa de estágio de verão. Lá, foi orientado por outro brasileiro, Alex Viana. "Foi ele quem me direcionou em todas as atividades. Os instrutores passavam tarefas como, por exemplo, melhorar o desempenho de alguma parte do projeto", relatou.

Planetas em pixels

A 612 km de distância do solo, orbitando o globo terrestre, o Hubble é capaz de fazer imagens de planetas, estrelas, galáxias e outros corpos celestes com uma nitidez que nenhum telescópio na Terra consegue alcançar, por maior e mais potente que seja. "Ele não é muito grande, só tem dois metros e meio. Na Terra, nós temos telescópios muito maiores que isso. Mas, como ele está fora da atmosfera, a luz não sofre tanta interferência", explicou Duília, que também é pesquisadora do Instituto.

Com a ajuda de computadores, porém, essas imagens podem ficar ainda melhores. Foi aí que Walysson pôde juntar sua formação acadêmica com sua paixão. "Trabalhei no projeto The Moving Target Pipeline, que melhora a qualidade das imagens obtidas pelo Hubble, com a correção de pixels, e obtém as posições celestes dos objetos presentes nelas. Toda informação é adicionada num banco de dados e as imagens em disco", explicou o estudante. Segundo ele, o material produzido pode ser utilizado em diversos outros projetos, principalmente voltados para a divulgação direcionada ao público em geral, numa área que chamam de ciência do cidadão, citizen science.

Walysson trabalhou com um número gigantesco de imagens. "Processei mais de 180 mil imagens que faltavam. Levou duas semanas para terminar essa etapa, isso porque eu implementei a funcionalidade de executar o programa em vários núcleos dos processadores dos clusters [conjuntos de computadores que trabalham como se fossem uma única máquina] do instituto, o que agilizou o processo", explicou. Ele colaborou com o projeto Hubble Deep Field, que gerou uma imagem de uma pequena porção do céu visto daqui, mas que possui quase três mil galáxias.

Segundo o intercambista, a tecnologia ajuda a detectar galáxias em colisão, o que pode estar relacionado ao processo evolucionário desses gigantescos corpos celestes. "Isso pode nos levar a melhor compreender o que aconteceu, acontece ou acontecerá com nossa Via Láctea. Eu fui o responsável pela implementação da ferramenta que detectava os possíveis pares de galáxia que estavam num processo de colisão", explicou.

De volta para Alagoas

O sonho de trabalhar com astronomia não terminou ao voltar para o Campus Arapiraca da Ufal. Graças à necessidade da pesquisa por novas soluções digitais, Walysson resolveu dedicar seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) a sua paixão. "Pretendo seguir trabalhando de alguma forma na área, ajudando a desenvolver melhores ferramentas para utilização nas mais variadas pesquisas em Astronomia", expressou.

Walysson trabalhou nessa pesquisa com Duília e, com ela, publicou um trabalho no 225º Encontro da Sociedade Astronômica Americana. Aprendiz e mestra puderam se reencontrar em Maceió, no 17º Encontro Nacional de Astronomia, que aconteceu em novembro de 2014, na Ufal, em Maceió. "Ela me fez querer persistir na busca do que acredito ser o melhor para mim", agradeceu. Ao que parece, essa é uma busca que já o levou bem longe.