Linha de pesquisa do Centro de Educação defende iniciativas inovadoras com uso das TICs

Trabalhos apontam resultados da criação de vínculos entre os diferentes públicos e as tecnologias

19/11/2015 16h53 - Atualizado em 19/11/2015 às 16h56
Helena Pimentel entre seu orientador Luìs Paulo Mercadante e outros dois membros da banca, Edivânio Duarte e Anamelea Campos

Helena Pimentel entre seu orientador Luìs Paulo Mercadante e outros dois membros da banca, Edivânio Duarte e Anamelea Campos

Jhonathan Pino - jornalista

Há pelo menos 10 anos, o Centro de Educação (Cedu) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vem pensando o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) nos processos de ensino e aprendizagem. Nesse tempo, a linha TIC na Educação, pertencente ao Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), já produziu dissertações, teses e intervenções em comunidades, a partir de investigações nas estratégias didáticas de uso das TICs na educação presencial, híbrida e online; na utilização de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) e de metodologias para alfabetização e inclusão digital, por exemplo. Ao todo já são cinco teses e mais de 50 dissertações defendidas nessa área. As três últimas foram finalizadas em outubro, sob a orientação do professor Luís Paulo Mercado.

As investigações ocorrem em diversas nas mais diferentes vertentes: elas podem ter foco no profissional do ensino, como foi o caso da investigação de Odaléa Feitosa Vidal; podem estar baseadas no ponto de vista do estudante, como fez Cleriston Izidro; ou podem trabalhar com os intermediários do processo de aprendizagem, como assim escolheu Helena Pimentel, em suas investigações sobre as bibliotecas da Universidade Aberta do Brasil (UAB).

A bibliotecária da Ufal, Helena Pimentel, defendeu o seu trabalho, Condições de acesso à informação no contexto do Polo De Apoio Presencial da Universidade Aberta Do Brasil. Na elaboração de sua tese, ela propôs questionários para que os coordenadores dos polos e bibliotecários relatassem suas experiências nesses locais e chegou à conclusão de que os equipamentos disponibilizados pelos polos dos 26 estados brasileiros atendiam as exigências do Ministério da Educação (MEC).

“Nas considerações finais deste estudo, os resultados encontrados, ressaltam que em 95% dos Polos de Apoio Presencial da UAB existe biblioteca física, o que se ajusta à proposta do Sistema UAB e com os Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância. A respeito dos resultados encontrados sobre o profissional da informação (bibliotecário), é importante ressaltar que 63% das respostas afirmam que nos polos não dispõem de bibliotecário; são outros profissionais que atuam na biblioteca, se acrescidos 30% dos que não responderam ao dado “formação”, tem-se um percentual de 93%”, detalhou a tese.

Para a pesquisadora, a ausência de bibliotecário compromete a oferta de serviços relevantes de gestão e na disseminação de informações estratégicas, para a tomada de decisões pelos seus gestores, “quer seja no ensino-aprendizagem, quer seja na elaboração e na efetivação de projetos e ações voltados para o desenvolvimento regional e social”, completa Helena.

Pesquisa aponta falta de familiaridade com as tecnologias contemporâneas

Se a pesquisa acima notou que a falta de profissionais bibliotecários, para atender melhor a comunidade da educação à distância, outra percebeu que não familiarização dos docentes com as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) ainda continua sendo o principal gargalo para o processo de inovação da educação presencial. Para fazer seu trabalho, Práticas pedagógicas inovadoras: narrativas sobre integração das tecnologias digitais da informação e comunicação no Ensino Superior, Odaléa Feitosa, também ouviu 10 docentes de graduação e pós-graduação, em universidades públicas e privadas e notou que o uso daqueles recursos é capaz de mudar a forma como os docentes planejam suas aulas, articulam e mediam os espaços de aprendizado colaborativo.

Durante a pesquisa, Odaléa entrou em contato com diversas práticas pedagógicas inovadoras, como os Percursos Online Múltiplos Abertos e Rizomáticos (POMAR Docências), o Cursos Massivos Abertos Online (MOOC), as redes sociais, Mundos Virtuais #D (MDV3D), Open Sim, Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) e games. No entanto, ao lado daquelas experimentações, pôde perceber realidades em que há falta de estrutura física adequada e docentes resistentes a integração das TDIC na prática.

A pesquisadora ainda notou que muitas vezes os estudantes têm mais conhecimentos que os docentes em relação as TDIC, devido ao constante avanço tecnológicos ainda há da falta de incentivo das instituições para a sua utilização. Para lidar com essa realidade, ela sugeriu mudança de postura dos profissionais. “Para os sujeitos narradores, diante das dificuldades identificadas, não se trata de inovar tecnologicamente, mas inovar pedagogicamente, atribuindo sentido e modificando a forma de pensar e agir as TDIC”, explica a recém-doutora.

Educação infantil com tablets

Clériston preferiu continuar suas investigações na área de educação infantil e percebeu a relação das crianças de 4 a 5 anos de idade com os tablets. O trabalho Tatear e desvendar: um estudo com crianças pequenas e dispositivos móveis, foi o último dos três a ser aprovado, na sexta-feira, 9. Em sua defesa, o professor do Cedu defendeu que o contato entre as crianças e os dispositivos é responsável por experiências enriquecedoras do processo de aprendizagem, no entanto, que elas seriam muitas vezes subvalorizadas pelos seus pais.

“Essa discussão parece estar centrada em uma visão adultocêntrica, segundo a qual são os adultos que decidem qual é o momento de permitir a exploração das TDIC pelas crianças sem, no entanto, considerar os interesses, as necessidades e as potencialidades da criança pequena”, defendeu o professor.

A pesquisa foi desenvolvida a partir de visitas a uma instituição pública de educação infantil do município de Maceió, localizada na periferia urbana, onde ele teve experiências com pequenos grupos de uma turma de crianças. Nela, Clériston pôde analisar os processos de interação entre os pares e mapear a cultura lúdica a partir do uso do tablet.

“É possível depreender um movimento revelador de que as crianças possuem um repertório de experiências com as TDIC e que tal conhecimento tem sido desconsiderado, em diversos contextos, pelos adultos envolvidos com seus processos educativos, não se dispondo a acompanhá-las nessa trajetória”, enfatizou o pesquisador, em sua tese.

Ainda como parte de suas conclusões, Clériston apontou que além de possuírem conhecimentos construídos em espaços exteriores as suas escolas, as crianças se mostram capazes de aprender a partir do universo digital, que está disponível e despertam o interesse delas por meio de jogos eletrônicos de simulação, de interpretação de personagens, de ação, de aventura, dentre outros.

Entre seus apontamentos, Cláriston relatou: “O tablet se tornou um instrumento de mediação por meio do qual as crianças produziram inúmeras relações e narrativas orais; as crianças foram capazes de compartilhar suas experiências com as demais crianças e o pesquisador; a cultura lúdica das crianças também se manifesta no letramento digital e as crianças se organizam em pares para resolver problemas decorrentes do uso do tablet, dentre outras experiências”.