Primeira doutora da Escola Técnica de Artes diz que moda é um reflexo das mudanças sociais

Elizete Menezes concluiu doutorado na PUC de São Paulo e coordena projetos que destacam a moda como vasto campo de pesquisa

27/08/2015 22h27 - Atualizado em 04/09/2015 às 16h30
Elizete Menezes na sala de atividades práticas do curso de Produção de Moda da ETA

Elizete Menezes na sala de atividades práticas do curso de Produção de Moda da ETA

Diana Monteiro -­ jornalista 

Decidir abraçar o mundo da moda como campo de atuação para estudos e pesquisas fez com que Elizete Lili Menezes percorresse um caminho de capacitação acadêmica culminando com o doutorado recentemente concluído na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Elizete é docente da Escola Técnica de Artes e oriunda do primeiro concurso realizado pela Universidade Federal de Alagoas, pioneira na implantação do curso de Produção de Moda no Estado. 

O curso está no segundo ano de funcionamento, oferta anualmente 30 vagas e em mais um semestre letivo forma os primeiros profissionais. Segundo Elizete Menezes,a perspectiva é transformá­- lo em um curso de graduação tecnológica em Design de Moda,  motivado tanto pela carência de recursos humanos com formação na área, como pela demanda crescente desse mercado em Alagoas. “A ETA tem sido referência nessa formação profissional para o mercado local”, enfatizou. 

Há um ano como docente, Elizete é a primeira doutora da Escola Técnica de Artes e com propriedade diz, que a moda é um reflexo do comportamento social, sendo assim, mais abrangente do que se imagina: “estudar moda não é só estar na moda, e sim, observar outras ciências como antropologia, sociologia e comunicação o que torna esta área um vasto campo de pesquisa e estudos”. A professora ministra as disciplinas: Tendências e Pesquisa de Moda; Produção de Moda; e Empreendedorismo e Negócios da Moda. 

O campo de estudo em foco tem impulsionado a implantação de projetos e atividades com participação dos alunos visando o conhecimento, o aprendizado e a formação qualificada. Destacando a moda como estudo acadêmico, o projeto Moda e Comunicação envolve atividades de produção de conteúdo de moda para redes sociais, a coluna Vai dar Moda na Revista Smag (Salada Magazine), de circulação em Maceió e promoção de eventos acadêmicos de moda. 

Já está disponibilizado o instagram @modaetaufal, iniciado com sucesso   por   registrar   nas   duas primeiras   semanas   grande   aceitação. A rede social  tem sido acessada   por   personalidades   de   referência   na  moda   nacional, como Paulo Borges, considerado o pai da Moda e organizador do setor   nacional   do   São   Paulo   Fashion   Week ;  e   pelo   estilista Alexandre   Herchcovitch. A  modelo  alagoana   de   projeção internacional Bruna Tenório  e  o estilista Lucas Barros, também de Alagoas,  têm curtido a rede social. 

Outro projeto sob a coordenação da professora Elizete Menezes é o Moda Alagoana, que consiste na análise  da história  e  organização do cenário  da moda local. “A ETA é procurada para indicar alunos em formação e alguns já foram inseridos no mercado de trabalho. Muitos jovens estão abrindo marcas próprias, e Maceió   tem sido um centro de realização de eventos de destaque,  como o Trend House e a Semana Palato de Moda”, enfatiza. 

Diversificação da moda 

Aprovada no doutorado com o conceito máximo, Elizete Menezes já detém o título de mestre em Moda, Cultura e Arte na linha Moda, Corpo e Sociedade pelo Senac São Paulo, uma referência nacional na área. A trajetória para o tão sonhado objetivo, em ser uma  estudiosa   de  moda, foi iniciada com a graduação em Publicidade e Propaganda. “A moda com produção enquanto indústria estruturada, só começou a partir da década de 90, em São Paulo. A aceitação da moda pela academia é ainda mais recente. Não há ainda no Brasil um doutorado específico na área, o que  significa  carência  de  estudos  e de  recursos  humanos”, frisa. 

O doutorado em Comunicação e Semiótica, realizado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo,  teve como campo de pesquisa Lojas da C&A de São Paulo, Salvador e Maceió e enfocou os processos de comunicação da rede e a construção do discurso em torno da moda acessível.  A tese, defendida em junho, teve a orientação da professora Leda Tenório Mota, também da  PUC. Integraram  a  banca examinadora as professoras Ana Amélia da Silva e Lúcia Isaltina Clemente, da mesma instituição; Maria Lucia Bueno Ramos, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Patrícia Margarida Farias Coelho, da Universidade de São Paulo (USP). 

A rede de lojas, pertencente a uma família holandesa,  lança moda em todo o país e de forma diversificada  para   contemplar  todas   as diferentes  classes sociais. Ela explica: “A moda lançada pela rede C&A tem foco na classe C. Para alcançar um público diferente, com maior poder aquisitivo, entre outras ações, a empresa passou a   lançar  coleções   em   parceria com estilistas consagrados. Isso confirma que  já  não há  uma  moda  única que todos  vão consumir  e  sim,  modas,  que serão  apropriadas  pelas várias clientelas".