Tese aponta brechas na avaliação de qualidade dos cursos de pós-graduação EAD

Pesquisadora constatou ausência de instrumentos próprios de avaliação para a modalidade

06/07/2015 12h57 - Atualizado em 08/07/2015 às 13h58
Rosana Sarita atua como coordenadora de Polos e Cursos da Coordenadoria Institucional de Educação a Distância

Rosana Sarita atua como coordenadora de Polos e Cursos da Coordenadoria Institucional de Educação a Distância

Jhonathan Pino – jornalista 

A técnica em assuntos educacionais Rosana Sarita Araújo aproveitou sua atuação na coordenação do Núcleo de Acompanhamento de Polos e cursos da Coordenadoria Institucional de Educação a Distância (Cied), como campo de estudos para o seu doutoramento no Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE). Ao verificar a ausência de instrumentos específicos para a avaliação dos cursos de especialização na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ela deu início a uma pesquisa ainda inexplorada na instituição. 

Ao longo de sua investigação, a servidora percebeu que os cursos de especialização na modalidade EAD da Ufal são avaliados apenas do ponto de vista burocrático. Ela aponta a inexistência de uma política e de instrumentos de avaliação adequados a esta modalidade de ensino. Seu corpus de pesquisa foi o curso de especialização em Formação Continuada de Professores em Mídias na Educação, ofertado em 2009 pela Ufal. Na tese, Rosana justifica a escolha: “Levei em consideração que as ações desse curso têm como foco a formação continuada dos professores das mais diferentes áreas das licenciaturas, permitindo a participação de docentes que atuam em diversos níveis e modalidades da educação; ainda, a escolha foi por representar justamente a materialização de uma das políticas educacionais que se destinam à formação de professores."

Ao comparar os recursos de avaliação existentes dos cursos de graduação, ou de pós-graduação stricto sensu, por exemplo, com as especializações da Ufal, a pesquisadora percebeu que aqueles apresentam organicidade, enquanto os cursos de pós da modalidade EAD são constituídos por ações pontuais em sua avaliação. 

A doutoranda explica: “A Ufal, através da Propep (Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação], realiza o acompanhamento dos cursos de especialização na perspectiva administrativa, no que se refere a oferta dos cursos e certificação dos alunos concluintes, todavia, ainda não há um acompanhamento da qualidade pedagógica e acadêmica dos cursos desenvolvidos, considerando que nacionalmente não existe regulação destes procedimentos e institucionalmente não há uma política de avaliação institucional que abranja esta perspectiva, diferentemente do cenário da graduação e pós-graduação stricto sensu que, respectivamente, por meio do Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas] e da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] já possuem uma perspectiva de avaliação bem delineada”, disse Rosana. 

Proposta de avaliação própria 

Identificando esse vácuo na avaliação dos cursos, Rosana propôs uma série de procedimentos a serem desenvolvidos para avaliar a qualidade acadêmica das especializações destinadas à formação de professores ofertados por meio da modalidade a distância da Ufal e subsidiar a avaliação institucional, a partir da criação de um instrumento próprio. 

Certamente a base estrutural do instrumento pode ser reelaborada e ampliada para adequação a outros cursos. O que se busca fundamentalmente é que o instrumento não só possibilite a sistematização de resultados, mas a ascensão de uma avaliação institucional mais completa. Essa ascensão dos resultados na avaliação institucional não só possibilita maior transparência da oferta de cursos lato sensu na categoria mencionada, como deixa em evidência os resultados para discussão e realinhamento, quando necessário, das ações, a serviço exatamente do papel de retroalimentação que cabe à avaliação institucional”, detalhou a pesquisadora. 

Ainda por e-mail, o professor Luis Paulo nos relatou a contribuição do trabalho. “Os resultados obtidos com a avaliação dos cursos poderão ser integrados à avaliação institucional, estruturando o cenário da oferta de cursos de especialização e qualidade acadêmica destes por meio de dados mais consistentes e com a participação da opinião da comunidade acadêmica envolvida diretamente nos cursos”, e acrescenta: “O processamento da avaliação institucional, embasada também pela avaliação dos cursos de especialização, resultará em uma avaliação mais transparente e integral das ações da IES, possibilitando a proposição e o desenvolvimento de efetivas melhorias de qualidade nas condições de oferta dos cursos e no processo pedagógico”. 

No entanto, Rosana deixa claro que essa lacuna não é exclusiva dos cursos de formação de professores. Ela também é encontrada em todos os cursos no nível de especialização da Ufal. “O que se buscou evidenciar com esse panorama das ações na área de formação de professores é que iniciativas para formação continuada estão sendo projetadas; o que falta ainda é a força de institucionalização para a manutenção dos cursos, prezando a qualidade das ofertas, força essa que pode nascer com a consolidação de políticas educacionais que exijam paralelamente discussões no eixo das políticas de pós-graduação, englobando o lato sensu”, reforçou. 

Ela também deixa claro que o problema não é particular da Ufal, mas é uma realidade do ensino superior em todo o país “e certamente esta carência reforça a falta de iniciativa das IES [Instituições de Ensino Superior] em concentrar esforços para aprimorar o cenário dos cursos de pós-graduação lato sensu. Não diferente, a Ufal, através da Propep, apesar de estar buscando aperfeiçoar as ações de cunho administrativo com a implantação do SIGAA [Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas], ainda não tem projetada ação na vertente do acompanhamento da qualidade acadêmica e pedagógica destes”, ressaltou. 

A pesquisadora ainda defende que a falta de controle pelo Ministério da Educação (MEC) tem deixado as IES cada vez mais soltas na definição dos próprios parâmetros, propiciando apenas “o crescimento de um mercado lucrativo para as instituições privadas, com a oferta massificada de cursos, ou uma célula de captação de recursos para as instituições públicas”, reafirmou. 

A defesa aconteceu no Auditório do Centro de Interesse Comunitário (CIC), no dia 22 de maio. Além da presença do professor Luis Paulo, a banca contou com as docentes Maria Neide Sobral, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e Sérgio Paulino Abranches, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de Maria das Graças Marinho de Almeida e Cleide Jane de Sá Araújo Costa, ambas da Ufal.