Depoimentos emocionados marcaram o Ato Ufal em Defesa da Vida

Tema da 15ª edição foi Trânsito: Violência, Traumas e Sequelas. Prevenção ou Morte?

27/05/2015 13h59
Reitor Eurico Lôbo presidiu a mesa de abertura

Reitor Eurico Lôbo presidiu a mesa de abertura

Lenilda Luna - jornalista

Mas do que conscientizar, o 15º Ato Ufal em Defesa da Vida buscou sensibilizar os participantes. O tema Trânsito: Violência, Traumas e Sequelas. Prevenção ou Morte? foi abordado com estatísticas, orientações e informações importantes, mas, principalmente, com o depoimentos de sobreviventes e familiares de vítimas da tragédia diária, que é o trânsito brasileiro, momento que emocionou os participantes.

A coordenadora do programa, Ruth Vasconcelos, enfatizou que a Universidade é um espaço de fazer ciência, mas também é um lugar de arte, cultura e de cuidar da vida. "Precisamos refletir sobre a responsabilidade de todos nós em construir uma sociedade pacífica e solidária", destacou a professora e coordenadora de política estudantil da Pró-reitoria Estudantil.

O pró-reitor Estudantil, Pedro Nelson, disse que o 15º Ato contou com a parceria fundamental do Detran-Alagoas, representado no evento pelo diretor-presidente, Antônio Carlos Gouveia. "O programa Ufal em Defesa da Vida faz parte de uma estratégia desenvolvida para enfrentar a violência em todas as esferas da sociedade. Hoje, voltamos nossa atenção para reflexão sobre a violência no trânsito", pontuou o pró-reitor.

O reitor da Ufal, Eurico Lôbo, que presidiu a mesa de abertura do 15º Ato, ressaltou a importância da campanha. "Precisamos do engajamento de todos para enfrentar a situação alarmante no trânsito". O reitor fez um cumprimento especial à arquiteta Ceres Vanconcelos, que há quase dois anos perdeu o filho, Álvaro Vasconcelos Filho, atropelado por um ônibus quando transitava com a bicicleta dele pelo acostamento da AL-101 Sul.

Foi justamente o depoimento de Ceres Vasconcelos que mais emocionou os espectadores do Ato. Muito abatida, ela se aproximou do banner com a foto do filho, em uma bicicleta, como gostava de fazer todos os dias. "Eu levei tempo para conseguir olhar para esse banner. A dor ainda é muito grande e eu preciso pedir forças a Deus todos os dias para prosseguir", disse ela.

O acidente que vitimou Álvaro Vasconcelos Filho aconteceu no dia 15 de julho de 2013, por volta de 6h30. Ele saiu pedalando de Maceió, no sentido Barra de São Miguel, como costumava fazer para treinar. O rapaz, que tinha 30 anos, era engenheiro civil, formado pela Ufal, e triatleta. "Depois dessa tragédia, eu ainda não consegui retomar a minha rotina. Não voltei ao meu trabalho e sei que nada será como antes", relatou Ceres Vasconcelos.

A plateia silenciou diante do depoimento. Ceres destacou que é mais uma, entre tantas mães que choram por filhos mortos na violência do trânsito. "Eu me solidarizo a essas mães. Muitas delas não têm, como eu, as condições de se fazerem ouvir, de clamar por Justiça. Sofrem em silêncio, isoladas. A sociedade não pode continuar silenciando sobre isso. Onde estão as ciclovias que fazem parte dos projetos das estradas, mas não são construídas? Por que esse auditório não está lotado com a comunidade universitária que precisa refletir sobre essa situação que atinge a todos nós", questionou a arquiteta.

Superação

Logo depois de Ceres Vasconcelos, que deixou o público em lágrimas, foi a vez de Jorge Luiz Fireman fazer o seu relato. Ele participou da mesa como subsecretário da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos do Estado de Alagoas, mas também falou como sobrevivente do trânsito. "Também fui atropelado, quando pedalava minha bicicleta, há 12 anos. O acidente aconteceu quando eu tinha 26 anos, era estudante de Educação Física da Ufal e fazia muitos planos para o futuro", relatou Fireman.

Ele contou que teve uma lesão medular na vértebra C4, que compromete os movimentos das pernas e dos braços. A recuperação foi gradual, até que pudesse retomar algumas das atividades. "Eu passei muito tempo imobilizado. Foi um longo período avaliando o que eu perdi, até conseguir mudar o foco para o que eu posso fazer e ainda posso voltar a fazer. É esse o meu direcionamento agora. Com os avanços da medicina e da tecnologia, quero ampliar minhas possibilidades", ressaltou o subsecretário.

Fireman alertou a plateia sobre as consequências incalculáveis da violência no trânsito. "A pessoa que me atropelou, segundo testemunhas, estava falando ao celular e acima da velocidade permitida para a via. É uma pessoa como a maioria, que saí de casa para fazer suas atividades, mas por descuido, pode matar, ou deixar uma pessoa com sequela o resto da vida. E não atinge apenas à vítima do acidente. Toda a família, amigos, pessoas próximas são abaladas com a tragédia", enfatizou Jorge Fireman.

Ações preventivas

O 15º Ato contou ainda, no período da manhã, com as exposições de Antônio Carlos Gouveia, diretor do Detran; Marluce Caldas, representando o Ministério Público; e Antônio Fachinetti, da Associação Alagoana de Ciclismo. Os palestrantes enfatizaram a necessidade de um esforço coletivo de órgãos, pessoas e organizações sociais, para promover a paz no trânsito e para que ninguém se torne indiferente à grande quantidade de acidentes que acontecem todos os dias, envolvendo principalmente ciclistas e motociclistas.

À tarde, aconteceu uma mesa-redonda com o tema Planejamento e a mobilidade urbana como fatores preventivos a violências, traumas e sequelas no trânsito. Os debates foram mediados pela professora Elaine Pimental, coordenadora de Ações Acadêmicas da Proest, com a participação de Verônica Leite, diretora do Hospital Geral do Estado (HGE), e de Renan Silva, gerente de Estudos de Acidentes e Infrações do Detran.