Texto teatral inspirado em Brecht é utilizado para o aprendizado da Física no ensino médio

O texto integra a dissertação de mestrado do professor Rodrigo Baldow e tem como público-alvo alunos do ensino médio

26/11/2014 12h00 - Atualizado em 26/11/2014 às 16h45
Orientador Jenner Barretto e o concluinte do mestrado Rodrigo Baldow

Orientador Jenner Barretto e o concluinte do mestrado Rodrigo Baldow

Diana Monteiro - jornalista 

Possivelmente o famoso dramaturgo poeta e encenador alemão do século XX Eugen Berthold Friedrich Brecht, que se tornou mundialmente conhecido por influenciar profundamente o teatro contemporâneo, jamais imaginaria que seus trabalhos artísticos influenciariam e estimulariam também outras áreas de aprendizado, como a da ciência Física. 

Como um texto teatral baseado na ideia de Brecht poderia estimular e despertar o interesse de alunos do ensino médio pela disciplina tida como de difícil assimilação pela maioria? Pois foi a obra de Brecht uma das fontes de inspiração utilizada pelo professor Rodrigo Baldow para estimular aos seus alunos ao entendimento e interesse pela física, disciplina que leciona em duas escolas do vizinho Estado de Pernambuco. 

Licenciado em Física pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFPE), Rodrigo Baldow destacou falhas ainda existentes no aprendizado de Física e tece críticas ao ensinamento. “A forma ainda repetitiva como didática de ensinamento aplicando o “decoreba” pensando-se mais em exame vestibular, proporciona a falta de conexão entre aluno e professor, prejudica a aprendizagem e é desestimulante”, enfatizou. 

Rodrigo Baldow concluiu recentemente o Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECIM), da Universidade Federal de Alagoas com a dissertação sobre Um Teatro sobre o Caso Galileu: A peça didática de Brechet como instrumento de divulgação científica. Nesse contexto foi construído o produto educacional (peça) denominada de “A matuta e o caso Galileu”, que se constitui no Estado como também no mestrado da Ufal, na primeira experiência de teatro com expediente pedagógico para o ensino da Física. 

O orientador da dissertação Jenner Barretto reforça que o ensino de Física no ensino médio carece de elementos lúdicos, históricos e filosóficos, e a peça construída no contexto do teatro didático de Brecht, contempla tudo isso de uma maneira muito bem dosada, constituindo-se num elemento de melhoria do ensino de ciência com relevante contribuição ao aprendizado. 

Além de Galileu, grande físico, matemático e astrônomo que fez a descoberta da lei dos corpos e enunciou o princípio da Inércia, foi também fonte de inspiração para a construção da peça teatral um artigo em formato de diálogo do professor Alexandre Medeiros, da UFRPE. De Galileu são famosas as frases: “A Matemática é o alfabeto com que Deus escreveu o Universo"; "Meça o que é mensurável e torne mensurável o que não é”; e “Todas as verdades são fáceis de entender, uma vez descobertas. O caso é descobri-las". 

Criticidade ao conteúdo científico 

A peça A matuta e o caso Galileu se passa na Itália, entre os anos de 1632 a 1633, é dotada de dezoito cenas e conta com os seguintes personagens: Galileu Galilei; Matuta (personagem fictício que vive com Galileu); Castelli (padre beneditino e amigo de Galileu); Cardeal (personagem fictício que é amigo fiel do Papa); Papa Urbano VIII; Homem da Igreja (trabalha para o Papa); Nicollini (amigo de Galileu e embaixador florentino); Inquisidor de Florença; Maculano (comissário geral da Inquisição); Virgínia (filha de Galileu); e 10 cardeais, com participação alternada. 

Rodrigo Baldow informou que o texto teatral foi lido em sala por 12 alunos (seis mulheres e seis homens), baseando-se na ideia de Brechet onde diz que “para se aprender no teatro não há necessidade do espetáculo, pois o atuante aprende no momento do ensaio”. 

E reforçou: “A peça como estímulo à leitura mostra a importância da ciência, e não olha a Física com conhecimentos pontuais. O que se conhece hoje da ciência é sua constituição como tal, dotada de controvérsias. O texto traz um recorte do que aconteceu no momento da história da ciência e nesse momento ficou conhecida como o caso Galileu, um dos maiores cientistas da História”, frisou. 

Baldow acrescentou que durante a leitura, como ensaio, houve a troca de papéis dos personagens para que os alunos participantes pudessem ter um olhar de vários ângulos, entender e criticar a atitude dos personagens. “Ao discutirem um pouco mais sobre a história da Física, no caso do Galileu, os estudantes perceberam que os conhecimentos científicos não aconteceram por acaso, há um desenvolvimento e que uma substituição de uma teoria por outra não pode ser de forma instantânea, mas sim, fruto de muito debate. Ao observarem isso, os alunos começaram a compreender que o conhecimento científico não é uma verdade absoluta”, enfatizou. 

O nível de crescimento de criticidade em relação ao conteúdo científico, segundo o professor foi percebido durante a leitura: “Foi bastante positivo, porque levou os alunos a não terem uma visão distorcida da natureza da ciência. Constatei também uma maior participação deles nas aulas, e esse interesse tem reais possibilidades para um melhor aprendizado”, enfatizou. 

Rodrigo Baldow disse que dará continuidade a inovadora prática pedagógica de utilizar textos teatrais para novas pesquisas com o intuito de discutir outros conhecimentos científicos como estímulo ao aprendizado.