“É necessário impregnar as tecnologias no processo de formação dos professores”

Afirmação é do professor e pesquisador Klaus Schlunzen, que faz conferência de abertura do Caiite 2014

31/07/2014 08h50 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h26
 Professor Dr. Klaus Schlunzen

Professor Dr. Klaus Schlunzen

Roberto Amorim – jornalista  

A formação dos professores é uma das preocupações da edição 2014 do Congresso Acadêmico Integrado de Inovação e Tecnologia (Caiite). Não à toa, a conferência de abertura é do professor Dr. Klaus Schlunzen, especialista em Informática e Educação e coordenador do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual Paulista (Unesp). 

Marcada para às 16h do dia 18 de agosto, no auditório central do Centro de Convenções, a conversa tem como eixo inovação e tecnologias na educação: cultura, desafios e perspectivas. Ou seja, convencer e preparar os professores a incorporar as tecnologias de informação e comunicação no trabalho diário. “O maior problema é criar uma cultura de inovação nas universidades”, afirma Klaus num trecho da entrevista abaixo; confira! 

Quais os pontos principais que o sr. irá apresentar na conferência de abertura do Caiite 2014?
Falarei sobre a necessidade urgente de melhorarmos a formação inicial que as universidades em geral oferecem. É necessário impregnar as tecnologias no processo de formação, criando ambientes de aprendizagem contextualizados e significativos. 

Ainda é tímida nas universidades brasileiras a discussão acadêmica sobre a importância de aliar tecnologia e educação?
Sim, e isso é proveniente da falta de formação dos professores do ensino superior, que não utilizam as tecnologias porque não sabem como fazer. Por exemplo, um professor de Didática e Alfabetização em um curso de Pedagogia deveria saber como mostrar ao futuro professor os recursos tecnológicos que podem ser empregados na alfabetização das crianças. 

Por que tanta resistência?
Exatamente pelo fato de que para o professor é muito mais fácil “dar aula” da maneira tradicional, com a transmissão de informações para os estudantes do que criar ambientes com metodologias mais ativas, pelas quais os estudantes constroem seu conhecimento. 

É possível ressaltar avanços?
Há avanços, mas são muito tímidos ainda. É comum encontrarmos professores que entendem que precisam provocar mudanças, mas o “como fazer” é o grande problema. 

Quais exemplos a seguir?
No mundo existem exemplos interessantes que não necessariamente envolvem o uso das tecnologias. Posso citar o Centro de Formação de Professores da Universidade de Stanford nos EUA, que tem uma proposta muito interessante de aliar teoria e prática em contextos reais, nos quais o professor está diretamente envolvido. Outro exemplo é a Universidade de Aalborg na Dinamarca, que utiliza a PBL (Aprendizagem Baseada em Problemas) na formação inicial de engenheiros e em outras áreas do conhecimento. 

Quais as pedras no caminho que impedem o Brasil de avançar?
O maior problema no meu ponto de vista é a necessidade de criar uma cultura de inovação na universidade. É premente que a academia entenda que o seu papel é de construir novos ambientes de aprendizagem que não devem estar pautados em uma abordagem de transmissão de informação. Isso implica na quebra de modelos, em flexibilidade curricular, mobilidade estudantil, modelos híbridos que alternam presencialidade e virtualidade, metodologias ativas de aprendizagem, uso das tecnologias, entre outras mudanças. 

A EAD é uma grande ferramenta para ajudar o país no acesso a educação superior de qualidade?
Nosso entendimento sobre EAD é de oferecer oportunidades de acesso a educação ao cidadão brasileiro. As instituições de ensino superior concentram suas ofertas em grandes centros, deixando um grande número de pessoas com dificuldade de frequentá-las. As tecnologias podem permitir o estar junto virtual e dar condições de uma educação superior mais democrática. 

Como as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) devem ser utilizadas para atingir bons resultados?
É evidente que as TDIC não são a única forma de enriquecer os ambientes de aprendizagem, mas não podem passar desconhecidas como recurso pedagógico nos programas de formação de professores. Além disso, o seu uso deve estar pautado em uma abordagem ativa de aprendizagem, em metodologias que transformem os estudantes em agentes construtores de sua aprendizagem e não meros receptores de informação. Se conseguirmos impregnar e construir essa cultura na formação de nossos professores certamente muito avançaremos na direção de uma escola mais próxima de uma sociedade globalizada e tecnológica, de uma escola com mais significado para nossos estudantes e mais inclusiva.