Tenda Estudantil sedia primeiro Dia da Cultura Camponesa

Apresentações, feira e momentos de discussão sobre a cultura e a economia do campo marcaram evento na Ufal

25/03/2014 14h30 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h28
Movimento das Mulheres Camponesas teve destaque nas apresentações

Movimento das Mulheres Camponesas teve destaque nas apresentações

Pedro Barros - estudante de Jornalismo

A cultura do campo chegou ao campus: em sua primeira edição no Campus A.C. Simões da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o Dia da Cultura Camponesa levou apresentações populares, momentos de mística e discussão sobre temas pertinentes à economia e à cultura camponesas. A Feira Orgânica, que acontece todas as quartas, também fez parte do evento, na Tenda Estudantil.  

O objetivo da atividade é promover a valorização da cultura camponesa, com suas expressões, culinária e reivindicações sociais. O evento é organizado pelo Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), o Instituto Mundo Unido e o Projeto Zumbido, do Programa de Ações Interdisciplinares (Painter) da Ufal.

Evento

A religiosidade teve espaço de destaque no encontro. Com a participação do Instituto Mundo Unido, originado do movimento católico dos Focolares, o dia começou com o Pai Nosso dos Mártires e o momento de mística camponesa. A primeira palestrante, Maria Cavalcante, líder do Assentamento Rural Flor do Bosco, do Município de Messias, lembrou o dia de São José, santo popular no interior nordestino, e defendeu o resgate de sua festa. 

Maria falou também sobre a importância da mulher na agricultura e a necessidade de associar a produção rural com o cuidado com o meio ambiente. O evento teve apresentações de capoeira e pastoreio e um momento para histórias de vida, contadas pelas mulheres.

A história do assentamento Zumbi dos Palmares, em Branquinha, foi narrada em forma de cordel: a comunidade é assistida pelo Projeto Zumbido, da Ufal, e pelo Instituto Mundo Unido, que promovem atividades de educação para a produção de alimentos de forma sustentável e sem agrotóxicos.

O Projeto Zumbido, que integra o Programa de Ações Interdisciplinares (Painter) da Ufal, foi representado pelos estudantes Lidiane de Andrade, do curso de Administração, e Douglas Monteiro, do curso de Relações Públicas. Eles são fazem parte da equipe de seis bolsistas do projeto A solidariedade com o fundamento do desenvolvimento local sustentável no fomento ao Empreendedorismo Rural no Assentamento Zumbi dos Palmares – Município de Branquinha/AL.

Além deles, o projeto integra alunos dos cursos de Educação Física, Nutrição, Agronomia, Pedagogia e mais um de Administração, cada um contribuindo na sua área. 

Douglas e Lidiane falaram sobre a experiência de, ao mesmo tempo, ensinar e aprender com o povo do campo. "Os estudantes devem ser capazes de não mudar apenas sua história, mas também a vida das outras pessoas", falou Lidiane. Atualmente, o projeto está alavancando uma empresa incubada pela Ufal, Arte & Fruto. "O sonho é construir uma fábrica de doces, polpas e artesanato de fibra de bananeira", explicou Douglas.

Feira

A feira trouxe frutas, raízes e folhagens produzidos nos municípios de Arapiraca, Santana do Mundaú e Branquinha. Edneide Dantas, há quatro anos do assentamento Rio Bonito, em Flexeiras, levou caldo de frango para a Feira Orgânica. Ela soube do evento no final de semana anterior, quando começou a participar do MMC. "Antes eu já vendia nas feiras camponesas na Praça Sinimbú e na Praça da Faculdade [no Prado]", contou.

João Firmino e Clenildo da Silva Santos, de Santana do Mundaú, levaram frutos plantados por eles mesmos: macaxeira, laranja, manga, coco e batata. "Já vendemos na feira camponesa há mais de quatro meses", contaram.

Segundo o engenheiro agrônomo José Francisco, do Instituto Mundo Unido, os produtos recebem o Selo Orgânico, baseado na Lei 10831/03 (Lei dos Orgânicos), que certifica a qualidade dos alimentos plantados em agricultura familiar. Neste caso, os próprios agricultores podem vender o que plantam.

O engenheiro explicou que a produção orgânica de alimentos é tão benéfica para o equilíbrio ambiental quanto para o produtor e o consumidor: “Esse tipo de produção, sem agrotóxico, não prejudica o solo, mantém o solo fértil a longo prazo e não faz mal a saúde do consumidor”.

Para a arquiteta e urbanista Cristina Gameleira, dedicada ao estudo do desenvolvimento sustentável, é importante que os moradores das zonas rurais valorizem seu modo de vida e a agricultura familiar. "Temos recursos naturais tão abundantes no nosso país e ainda assim há essa miséria toda. A valorização e melhores condições de vida no campo faz com que eles permaneçam no local, reduzindo o êxodo rural", explicou.