Especialistas debatem problemas de mobilidade em Maceió

Evento foi promovido pela Proex dentro do projeto "Ufal debate grandes temas"

28/11/2013 15h11 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h29
Professors e alunos participaram de debate sobre mobilidade urbana

Professors e alunos participaram de debate sobre mobilidade urbana

Lenilda Luna - jornalista

Reunir especialistas para refletir, junto com a comunidade acadêmica, os temas mais relevantes para a sociedade. Esse é o objetivo do projeto Ufal debate grandes temas, promovido pela Pró-reitoria de Extensão. Desta vez, o tema em foco foi Mobilidade Urbana, mas na primeira edição, a grande questão discutida foi a poluição ambiental e a necessidade de buscar alternativas para a sustentabilidade do planeta.

Na quarta-feira (27), o tema refletido interessa bastante a todos os maceioenses, que estão encontrando dificuldades para se locomover em um trânsito cada vez mais congestionado. Para debater Mobilidade Urbana, foram convidados o secretário de Planejamento de Maceió, Manoel Messias, o arquiteto, urbanista e professor da Ufal, Geraldo Magela, e o ciclista e arquiteto, Daniel Soares.

A abertura do debate foi feita pelo pró-reitor de Extensão, Eduardo Lyra, que destacou a necessidade de repensar a dinâmica dos grandes centros urbanos. "Cidades maiores já estão buscando alternativas. Nova York, por exemplo, instalou quilômetros de ciclovia, com estações para guardar as bicicletas, para que as pessoas tenham alternativa aos automóveis. Os paulistanos passam o equivalente a 45 dias do ano dentro do carro, e também estão começando a pensar como mudar essa realidade", exemplificou o pró-reitor.

O autor do projeto Ufal debate grandes temas, Ulisses Gomes Cortez Lopes, também criticou a forma como as cidades estão se desenvolvendo, com um crescimento desordenado. "A partir da década de 1970, a sociedade começou a enfatizar o uso do automóvel como símbolo de status. Planejar o trânsito em função do transporte particular gerou o caos que vivemos hoje", destacou o ecologista.

Durante sua exposição, o secretário de Planejamento, Manoel Messias, apresentou aspectos históricos e técnicos sobre a evolução da mobilidade urbana em Maceió e no Brasil. Ele destacou que o País já teve um sistema de transporte que era confortável e eficiente, o ferroviário. "No início do século passado o Brasil realizou um grande investimento em ferrovias. Tivemos trens para transporte de passageiros entre as principais cidades brasileiras", lembrou.

Manoel Messias abordou o tema Os benefícios dos sistemas sobre trilhos na integração modal e como fator de desenvolvimento urbano. Ele destacou que 84% da população brasileira vive nas cidades, segundo dados do IBGE, obrigando os gestores a planejar melhor as questões de urbanidade. "Nossos modelos de cidade não cumprem o papel de garantir a cidadania dos moradores", questionou o secretário.

Ainda relembrando aspectos históricos, o secretário de Planejamento destacou que Alagoas também já teve uma boa malha ferroviária. Além dos trens, Maceió tinha bondes que circulavam pelas principais ruas da cidade. "A Companhia Alagoana de Trens Urbanos foi uma empresa forte, localizada num prédio imponente, numa área central da capital, demonstrando a importância estratégica que esse meio de transporte já teve entre nós", ressaltou o secretário, que apresentou várias fotos da cidade nesse período.

Depois da exposição histórica, o secretário apresentou projetos técnicos de médio e longo prazo para melhorar o trânsito na cidade. Ele destacou principalmente os investimentos que serão feitos na implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). "Vamos ter linhas interligando o aeroporto até o centro da cidade, passando pelas avenidas Durval de Góes Monteiro e Fernandes Lima. Para isso, será ocupada uma faixa do transporte rodoviário, porque o canteiro da Fernandes Lima é um símbolo intocável da nossa cidade", informou Manoel Messias.

O secretário lembrou que em 2015, Maceió completa 200 anos de fundação. "Quando a cidade fez cem anos, foi inaugurada a Praça Centenário. Para o bicentenário também estamos preparando uma obra referencial", contou Manoel Messias. Essas melhorias para a capital passam por desafogar o trânsito, com projetos que ofereçam alternativas à população. "Simplesmente falar em deixar o carro na garagem, sem oferecer condições para que essa pessoa consiga se deslocar com eficiência, conforto e rapidez, é cair num discurso vazio", ponderou.

Aumento de veículos e ruas apertadas

Daniel Soares é arquiteto e integrante do movimento Bicicletada. Diariamente, ele se desloca pelas ruas da cidade em uma bicicleta, por isso, conhece bem os desafios de enfrentar o trânsito da cidade em um transporte alternativo. "Temos poucas ciclovias e as que foram conquistadas com muita pressão dos ciclistas, nem sempre são respeitadas pelos motoristas. Com isso, colocamos nossas vidas em risco todos os dias", denunciou o ciclista.

Segundo Daniel, já há legislação que garante a prioridade nos planejamentos urbanos para o pedestre e não para os automóveis. "Além da Política Nacional de Mobilidade, temos o Plano Diretor de Maceió, que garante, no artigo 79, a prioridade aos pedestres, ao transporte coletivo e de massa e ao uso de bicicletas, não estimulando o uso de veículo motorizado particular", destacou o palestrante.

O ciclista apresentou dados para justificar a necessidade de pensar a cidade sem estimular o uso cada vez maior de veículos particulares em detrimento do transporte coletivo. "Dados do IBGE demonstram que entre os anos 2000 a 2010, a frota de carros cresceu 193%. A quantidade de motos registradas, sem computar as cinquentinhas, é assustadoramente maior. Um crescimento de 533%. Ou começamos a investir no transporte coletivo e não motorizado, ou a cidade vai parar", alertou o arquiteto.