Alagoas vira referência em formação de matemáticos no País

Ex-estudante da Ufal, Fernando Codá concorre a um dos principais prêmios na área. O matemático estará em Maceió nas próximas segunda e terça-feira, dias 9 e 10, para evento no Instituto de Matemática

28/08/2013 21h30 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h30
Codá foi convidado a proferir uma das palestras do Congresso Internacional de Matemáticos

Codá foi convidado a proferir uma das palestras do Congresso Internacional de Matemáticos

Jhonathan Pino - jornalista 

O mês de setembro promete ser especial para o Instituto de Matemática (IM) da Universidade Federal de Alagoas: mais uma vez a unidade irá receber a visita do professor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Fernando Codá Marques. Com apenas 33 anos de idade, o pesquisador foi convidado para ser um dos plenaristas do Congresso Internacional de Matemática, em 2014, na Coreia do Sul, e é um dos possíveis candidatos a ganhar a Medalha Fields, o equivalente ao Nobel da Matemática, prêmio restrito a jovens cientistas da área, com menos de 40 anos.

Conforme o coordenador de Pós-graduação em Matemática da Ufal, Marcos Petrucio, Codá é um dos alagoanos mais proeminentes da Matemática atualmente. A última conquista desse cientista foi a resolução, em conjunto com o matemático português André Neves, de um importante problema sobre superfícies, a chamada Conjectura de Willmore, que estava sem solução desde 1965. O fato foi noticiado no Globo Ciência, em junho passado.

“O matemático inglês Thomas Willmore tinha conjecturado qual deveria ser a melhor forma para um toro, que é como os matemáticos chamam a superfície de uma rosquinha, ou pneu. Isso tem relação com Engenharia (elasticidade) e com a forma de membranas celulares. Nós conseguimos mostrar que a previsão do Willmore estava certa. Este trabalho nos tem dado muita publicidade, e temos viajado o mundo todo para falar sobre nossa solução”, explicou Codá.

Mas esse fato foi apenas uma das últimas conquistas de uma longa história do ex-aluno da Ufal. Filho de professores da universidade, Codá foi o primeiro colocado no vestibular, para o curso de Engenharia Civil, em 1996. A posição fez com que ganhasse uma bolsa de iniciação científica, orientada pelo professor Hilário Alencar. A identificação pela matemática foi tão grande que no ano seguinte, ao participar de curso de verão, no Impa, ele seria convidado para participar do mestrado, que finalizou em 1999. No ano seguinte seguiu para os Estados Unidos, onde obteve o seu doutorado na prestigiada Universidade de Cornell.

Propulsores da Matemática

No Impa, Codá iria conhecer Manfredo Perdigão do Carmo e Elon Lages Lima, pesquisadores, que juntos com Codá, completam a lista dos alagoanos de maior influência nacional na Matemática. Em comum, esses exitosos cientistas revelariam que as referências de seus professores seriam essenciais para que desabrochassem para a Matemática.

Para Elon, estes profissionais são tão determinantes para a formação na área, que o pesquisador publicou uma obra em homenagem à categoria, chamado Meu professor de Matemática e outras histórias. Logo no primeiro ensaio, Elon aborda Benedito de Morais, professor que aos seus olhos, tornava a capital alagoana um lugar diferente dos outros.

“Já era professor havia muitos anos quando vim a conhecê-lo. Na realidade era um patrimônio cultural da cidade, respeitado e permanente. Assim como a estátua equestre do Marechal Deodoro, na praça do Teatro”, citou Elon na obra. A inspiração moral do professor Benedito o levou a ocupar a direção do Impa por três períodos distintos.

No caso de Petrucio, sua fonte propulsora foi o professor Edmilson Pontes. “No início da década de 90 ele fez um extraordinário trabalho com estudantes do ensino médio, na época, segundo grau. De um grupo de cerca de 30 alunos, a grande maioria fez doutorado (em Matemática, Computação, Engenharia), e hoje muitos são professores na Ufal, ou em outras universidades. Tive a grande oportunidade de ser um desses estudantes”, lembra o coordenador da pós.

Petrucio ressalta que é com a formação de professores, atividades com alunos nas olimpíadas na área e a pesquisa em matemática, que o IM da Ufal busca difundir essas experiências exitosas. “O IM oferta anualmente 140 vagas em cursos de graduação presencial (20 para o bacharelado e 120 para a licenciatura), que é um número bem expressivo se comparado com outras IES [Instituições de Ensino Superior] no Brasil. Além disso, temos um curso à distância e um curso no campus Arapiraca. O IM organiza anualmente a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) e a Olimpíada Alagoana de Matemática (OAM), que juntas atingem mais de 300 mil estudantes em todo o estado, destacando-se neste sentido a OBMEP. Os estudantes premiados em olimpíadas ganham bolsas e um treinamento de um ano. Alguns ganham bolsa para a graduação e mestrado”, detalha.

Além das Olimpíadas, o trabalho com os pré-graduandos e graduandos é iniciado com o MatFest, que desde 2004 abre as portas da Unidade para os alunos do ensino médio, com palestras, minicursos e visitas guiadas.

Qualificação de multiplicadores

Outra iniciativa do Instituto visando a qualificação de professores do Estado, é a promoção do Mestrado Profissional em Matemática, (Profmat). “Esse é um curso semipresencial em que professores do ensino médio de escolas públicas têm oportunidade de aprofundar seus conhecimentos com qualidade. Ao término do curso de dois anos, eles recebem o título de mestre em matemática”, acrescenta Petrúcio.

O mestrado acadêmico já tem dez anos e ainda há o doutorado em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), desde 2010. O retorno para todo esse trabalho é sentido dentro do próprio Instituto de Matemática, onde hoje dois terços do quadro de docentes são compostos por alagoanos oriundos de sua graduação.

“O nosso programa tem formado muitos profissionais qualificados. Vários egressos são professores no Ifal [Instituto Federal de Alagoas] e na Ufal, além de outras IES espalhadas no Brasil, especialmente no Nordeste. Muitos ainda são destacados alunos de doutorado na Ufal e em outros programas fora do nosso estado. Ainda não formamos nenhum doutor, mas estamos trabalhando muito para elevar o nível de nossas pesquisas e acredito que num futuro breve teremos bons pesquisadores em matemática formados na Ufal”, planeja o coordenador.

O IM também recebe e visita frequente de importantes pesquisadores da área. “Nesta semana estamos recebendo o professor Alberto Setti (Itália) que vem pelo Programa Ciência Sem Fronteiras da UFC. Recentemente contratamos o professor Peter Petrov (Bulgária) como professor visitante e no próximo mês vai chegar a professora Elisa Cañete (Espanha), ambos por um ano. Em janeiro de 2014 devemos receber o professor Ricardo Blaya (Cuba) também por  ano”, relata o coordenador.