Pesquisa aponta que livros didáticos não condizem com provas de Física do Enem

Parte das habilidades exigidas pelo exame não é abordada no material disponível nas escolas públicas

02/07/2013 16h40 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h31
Fabiano Santos constatou as falhas nos livros didáticos utilizados nas escolas públicas

Fabiano Santos constatou as falhas nos livros didáticos utilizados nas escolas públicas

Jhonathan Pino - jornalista

O desespero de muitos alunos quanto às questões de Física do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem explicação. De acordo com pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), grande parte dos livros didáticos utilizados pelos estudantes de escolas públicas apresenta fraca aproximação com as questões presentes nas provas do Enem.

O mestre Fabiano Santos chegou a essa conclusão após investigar o conteúdo da disciplina de Física, com ênfase na temática de energia e suas transformações. Os principais problemas constatados nos livros didáticos são que eles limitam esquemas e diagramas; trazem poucas veiculações e analises de textos C&T; faltam mais estratégias de identificação e de resolução dos diversos problemas; insuficiência de articulação com outras ciências e não abordam um contexto histórico e social”, detalhou Fabiano, que para chegar a essas conclusões, analisou 10 coleções de um total de 30 livros, sob a orientação do professor Elton Fireman, do Centro de Educação (Cedu) da Ufal.

Ele explica que após o ano de 2009, o Enem passou por transformações que exigiram maior número de competências dos estudantes, para a realização da prova: “Uma quantidade absurda de habilidades ampliadas: o que eram 21, hoje são 120 habilidades; é querer demais, tanto dos professores, quanto dos alunos”, desabafou. Essas habilidades são cobradas de forma interdisciplinar e contextualizada.

As dificuldades tornam-se maiores, porque apesar da compra dos livros didáticos de Física passarem pelo crivo do Plano Nacional de Livros Didáticos (PNLD/2012), 40% destas obras não abordam completamente o conjunto de competências contidas nas Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais, como representação e comunicação; investigação, compreensão e contextualização sociocultural. “Esses livros didáticos estão precisando passar por reformulações numa visão mais próxima com a realizada do Enem, mesmo aqueles que tiveram conceitos fortes ao exame”, defendeu o pesquisador.

Como forma de enfrentar essa realidade, professores estão buscando recursos didáticos mais próximos à proposta do Enem. Eles se utilizam de textos, artigos científicos, experimentos, jornais, vídeos e revistas, tentando, deste modo, suprir o material inexistente nas escolas.

Fabiano acrescenta que esse problema atinge em menor grau aos alunos das escolas particulares. “Isso se dá devido a sua autonomia para produzir e escolher seu próprio material didático, que são consumíveis e elaborados periodicamente. Já as escolas públicas dependem do PNLD, livros não consumíveis e com reposição a cada três anos. Por isso, as escolas particulares podem promover um material mais próximo ao Enem”, salientou.

Visando a sanar as dificuldades dos livros, Fabiano fez um texto de apoio aos professores de Física, disponível no anexo abaixo. O material disponibilizado também foi requisito para a conclusão do mestrado de Fabiano. O resultado foi apresentado em março deste ano.