Evasão e retenção nas universidades: problemas discutidos no Forgrad 2012

A preocupação com as vagas ociosas ou retidas na graduação é tema de debate no Fórum que reúne pró-reitores de várias instituições

18/12/2012 18h45 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h36
Amauri Barros, pró-reitor da Ufal e presidente do Forgrad Nordeste

Amauri Barros, pró-reitor da Ufal e presidente do Forgrad Nordeste

Manuella Soares - jornalista

Depois do processo seletivo que dá acesso à universidade, outras etapas serão postas aos alunos. É no primeiro ano da graduação que os números da evasão ficam elevados. Esse assunto foi tema de debate no Encontro Regional do Fórum Brasileiro de Pró-reitores de Graduação, o Forgrad Nordeste 2012, promovido pela Ufal. Os relatos dos principais problemas são comuns em todas as instituições.

Algumas vezes, o aluno não se identifica com o curso escolhido, ou se depara com um professor que tem dificuldade em transmitir o conteúdo e, então, resolve abandonar o curso, tentar mudar de área. Tudo isso faz crescer a estatística da evasão. Não menos comum, há muitos casos em que o aluno não consegue acompanhar o ritmo da turma, esbarra em deficiências do ensino básico e não avança na graduação, sentindo-se desmotivado e ficando para trás. Daí surge o problema da retenção, quando os estudantes reprovam as disciplinas e permanecem na universidade por mais tempo do que a média geral, normalmente, nos cursos da área de exatas.

Cada instituição adota uma maneira própria de driblar essas dificuldades, com políticas educacionais voltadas para melhorar o processo ensino-aprendizagem. Essas experiências são compartilhadas no Forgrad com bastante entusiasmo pelos participantes. O professor Vicente de Paula Lelis, da Universidade Federal de Viçosa, conta que a UFV criou tutorias especiais para os alunos com dificuldades em determinados assuntos. “As turmas são pequenas, com 6 a 7 estudantes que recebem orientações dos tutores, tiram dúvidas e revisam o conteúdo para reforçar o aprendizado antes das provas. Algumas turmas tiveram quase 100% de aprovação depois das aulas extras. Só em tirar o aluno do mesmo ambiente da sala de aula já dá uma motivação maior para estudar”, destacou Lelis.

A professora Maria Cristina Manno, da Universidade Federal Rural da Amazônia, expôs a ideia adotada pela Ufra, que reformulou todas as grades curriculares dos cursos, criando o sistema de eixos. “Cada eixo engloba várias disciplinas, diminuindo as cargas horárias dos conteúdos comuns e permitindo que o aluno consiga uma média de desempenho melhor. Assim, evita a reprovação em matérias que foram compensadas pelas notas das outras disciplinas do mesmo eixo”, explicou.

Uma experiência parecida foi mencionada pelo professor Aderaldo de Medeiros, da UFRN. “Nós temos uma formação em ciclos, ou seja, o aluno escolhe a área de atuação e, uma vez dentro da universidade pode fazer a opção do curso específico. Se ele entrou, por exemplo, na área de ciência e tecnologia, pode, depois de um período, optar por cursar física, matemática ou uma engenharia. Isso permite uma escolha mais qualificada”, salientou.

Na Ufal, o professor Luciano Barbosa dos Santos, do Centro de Tecnologia, afirma que muitos problemas de retenção nos cursos da área de exatas, foram solucionados com os cursos de verão, ministrados durante as férias dos alunos que não se saíram bem no semestre. “O aluno tem a oportunidade de repetir as disciplinas que ficaram abaixo da média e retornam no próximo semestre com a mesma turma, assim eles não perdem o vínculo evitando tanto a evasão quanto a retenção”, contou.

Sisu contribui com evasão

De acordo com o professor Miguel Franklin de Castro, da Universidade Federal do Ceará, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), abre margem para que existam vagas ociosas nas instituições de ensino superior. “Como o aluno tem a opção de escolher o curso de acordo com a nota do Enem, acaba fazendo uma opção desinteressada. Porque ele decide pelo que dá e, não, pelo que quer”, avaliou.

As experiências do Enem/Sisu vivenciadas pela Ufal e pela UFC foram discutidas no Forgrad como forma de avaliação das dificuldades e desafios com o intuito de propor orientações e ajustes no sistema.

Cotas sem evasão

Com a ampliação das vagas para acesso de cotistas, incluindo pretos, pardos e índios, as universidades já discutem políticas afirmativas para receber os alunos. “Se esses alunos não forem bem acolhidos, não criar uma identidade na instituição e, portanto, não vão permanecer nos cursos. Vamos ampliar as monitorias e as bolsas de extensão para apoio, além de adotar a tutoria especial para os alunos que não conseguirem acompanhar os conteúdos”, adiantou a professora Loreine Hermida, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). A Ufal também avalia as melhores medidas para políticas afirmativas de inclusão.

Carta de Maceió

O professor Custódio de Almeida, da UFC, vai elaborar a “Carta de Maceió” com ideias e perspectivas extraídas do encontro para levar ao próximo Forgrad, na edição nacional de junho de 2013, em Recife. “No contexto do documento vamos inserir a expansão das instituições; a qualidade e a articulação do ensino básico com o ensino superior; além da avaliação do Reuni e as cotas raciais e sociais. O programa de mobilidade internacional e a formação da docência para o ensino superior também vão constar nas proposições da carta”, adiantou.

O documento será enviado para o Ministério da Educação logo após o Fórum Nacional de Pró-reitores de Graduação, no ano que vem.